Sábado (10/11) —> Mesa 3 – Light Designers, autodidatismo e formação em cursos regulares
Participantes: Ligia Chaim (SP), Danielle Meirelles (SP), Denilson Marques (SP), Fernanda Carvalho (SP) e Cláudia Bem (SP).
Por: Paulo Abe
Guilherme Bonfanti inicia as falas da mesa indagando qual a relação da formação de cada um com seu ofício e prática.
Ligia Chaim tem 16 anos de carreira na iluminação, sempre envolvida na dança e com bandas grandes de diversos gêneros. Ela começa sua fala contando sobre sua formação e como o trabalho de iluminação “caiu” como um chamado pra ela. Desde o início de sua carreira já esteve próxima de Claudio Gutierrez e participou de uma oficina com Guilherme Bonfanti no Teatro da Vertigem. Logo, contou sobre como foi aprendendo com cada iluminador da qual foi assistente e como isso a ajudou a oferecer atualmente oficinas. Também falou de um curso de cenografia no MAM e um de artes para preparação de professores, além de um tecnólogo de audiovisual na FMU. De modo que, além de procurar formar seus alunos, também procura informar com sua vasta experiência em várias áreas.
Claudia de Bem é lighting designer, artista multimídia, mestre em artes plásticas e doutorando na ECA-USP. Nos últimos 10 anos tem pesquisado a esfera fenomenológica da luz. Teve uma formação multidisciplinar em engenheira química, educação física para então ir para as artes e o teatro. Começou como atriz para então ir para a iluminação. De maneira que não teve uma formação técnica. Se formou pela sua própria experimentação, mas também fez uma pós-graduação em iluminação e design no IPOG e ali teve um conhecimento técnico e teórico para entender melhor o que já fazia em seu trabalho. Logo depois fez o mestrado sobre a percepção da luz, discutindo os fenômenos ópticos e a relação do corpo e da luz natural. Essa investigação a levou a mais questões que procurou colocar em foco em seu doutorado, explorando os primórdios da luz, como o fogo. Uma de suas primeiras discussões foi já diferenciar luz de iluminação. Também discorre sobre seus cursos, onde procura entregar mais da teoria ou da dramaturgia/linguagem da luz do que da técnica. Ou seja, falar mais da luz do que da própria iluminação. Para ela, há três óticas importantes na luz: 1) a física; 2) fisiologia; 3) psiquê – atmosferas. E essas questões, para Claudia, é a própria vida cotidiana, tendo que ser ensinada nas escolas.
Denilson Marques é lighting designer há mais de 20 anos, tem experiência em balé, teatro, óperas, corporativos e projetos arquitetônicos.
Ministra workshops e trabalha desde 1997 no Macunaíma e desde 2003 no EAD-USP. Começou estagiando e aprendeu na prática tomando conta de um teatro sozinho. No entanto, procurou também mais conhecimento e foi fazer o curso CPT no SESC, além de workshops de arquitetura para entender o espaço assim como a iluminação. Também falou de seu aprendizado com os diretores com os quais já trabalhou.
Fernanda Carvalho é arquiteta, formada pela FAU-USP, tem desenvolvido projetos de iluminação para exposições em seu escritório. Antes de se formar trabalhou também com cenografia, onde conheceu Marisa Bentivegna que indicou a oficina de iluminação de Guilherme Bonfanti no Teatro da Vertigem. Na época, estagiava em arquitetura e o curso que a FAU oferecia não a saciava o que procurava saber sobre iluminação. De modo que aprendeu também na prática e sendo assistente de Guilherme Bonfanti. Posteriormente, abriu sua própria empresa, onde trabalha mais focada em exposições de arte. Concomitantemente a isso, procurou se aprofundar na iluminação arquitetônica e foi a um congresso em Londres, onde conheceu brasileiros e estrangeiros com o mesmo interesse que si própria. Em 2012, foi chamada pra uma reunião da Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação (ASBAI), na qual começou a fazer parte e hoje é diretora-executiva. Fernanda também falou sobre o autodidatismo do próprio processo pedagógico. Para ela, a busca por ensinar bem é o que a instiga a aprender ainda mais. Sendo isso que foi a ajudou a elaborar certas metodologias do ensino e conceber a luz como projeção para o futuro ou um projeto, assim como sua própria dramaturgia em sua relação com a percepção humana.
Daniele Meireles estudou música por oito anos e fotografia por dois anos; é também formada tanto em Rádio e Televisão pela Anhembi Morumbi com pós-graduação em roteiro como em iluminação pela SP Escola de Teatro, se tornando assistente de Guilherme Bonfanti. Fala de suas dificuldades do elitismo da arte, das condições de trabalho e do próprio pagamento em sua experiência na iluminação. Deu ênfase aos desafios de ser negra e mulher numa área predominantemente masculina. Também comenta suas ótimas relações com outros lighting designers, como Camilo Fyaman e projetos próprios discutindo a luta contra o machismo e racismo.
Chico Turbiane começa a roda de perguntas indagando sobre a carência de cursos de iluminação no Brasil e como isso leva as pessoas interessadas a se matricular em cursos correlatos, como fotografia, arquitetura etc, assim como o caminho inverso, acarretando em profissionais, por assim dizer, por acidente. Isso abre perspectivas para profissionais multidisciplinares. Também comenta o papel de workshops na formação das pessoas na mesa e sua importância para sua profissionalização.
Uma questão vem do público sobre ser técnico, como suprir ou não suprir aquilo que não dominamos, além de como isso se faz na relação lighting designer/técnico substituto. Ligia Chaim responde que a criação que propõe é solitária, pensando na sua própria operação para então passar a um operador, enfatizando que a operação é 70% de um desenho de luz. Denilson procura também dar sua perspectiva ao dizer que não há como ser um bom lighting designer sem ser um bom técnico. Claudia discorda de Denilson, pois, para ela, não há o profissional completo. É preciso, no entanto, assumir isso e saber se relacionar com, por exemplo, técnicos fixos de espaços culturais, pois eles podem saber mais que o lighting designer convidado. Isso não impede que se tenha consciência também do que se sabe uma vez que o lighting designer está lá por esta mesma razão. Já Fernanda dá sua impressão sobre o substituto, afirmando como este é uma parceria complementar e também imprime um pouco de si na criação ou operação do trabalho já criado.
Por fim, Guilherme Bonfanti comenta os limites do autodidatismo, pois, dependendo da prática do profissional, é preciso do outro como uma sala de aula, onde se possa aprender na própria relação. Já a informalidade do mercado da qual reclamamos, continua ele, tem a ver com a fragilidade na formação no sentido de que se o profissional não melhorar seu conhecimento técnico e teórico nós não podemos esperar que o mercado nos valorize.
Recent Comments
Leave a comment