Teatro da Vertigem
Iluminação e Pedagogia : Universidad de Las Artes e SP Escola de Teatro
Por Bruna Menezes
O Seminário de iluminação cênica organizado pelo Teatro da Vertigem em parceria com a Sp Escola de Teatro foi realizado na sede Roosevelt, entre os dias 8 a 10 de novembro e dias 26 e 27 de novembro de 2018. O encontro promoveu discussões entre artistas iluminadores para refletir sobre o processo de formação de novos iluminadores, dentre os presentes, Gonzalo Córdova, professor da UNA1. No encontro, Gonzalo expôs o pensamento pedagógico de formação do curso de iluminação cênica, implantado há dez anos, e as dificuldades de construir uma pedagogia da iluminação, que até então, não era pensada na Argentina, correspondendo a matérias na carreira de cenografia e que não consistiam como principais no curso. Este texto se propõe a fazer uma exposição do que Gonzalo pressupõe de uma pedagogia voltada para a formação de um iluminador, tomando como paralelo o curso de iluminação na Sp Escola de Teatro, coordenado por Guilherme Bonfanti.
Guilherme Bonfanti e Chico Turbiani, formador do curso de iluminação, ao analisarem a pedagogia proposta no curso, concluem que um aprendiz forma-se com um
conhecimento técnico, oferecendo recursos necessários para atuar na área e com possibilidades de continuação em pesquisas e cursos para a construção de uma carreira de light design.
O processo de formação nos quatro módulos é dado através da prática, forma que Guilherme Bonfanti construiu sua carreira como light design, portanto, o curso não exige requisito algum de experiência na área, e a ordem dos módulos também não influencia no processo de aprendizagem, visto que, o entendimento em ensinar luz não está ligado a questão cumulativa ou hierárquica do conhecimento, a trajetória é independente, não se ensina elétrica para ensinar os reletores, ou lâmpadas para ensinar as consoles para, então, ensinar o desenho de luz, as necessidade de aprendizado vão aparecendo a partir da prática e do que se vivência, partindo de quatro eixos pedagógicos apontados por Guilherme Bonfanti:
Tecnologia: todo o pensamento técnico, documentação de softwares, equipamentos e digitais.
Trabalho conceitual: pensando o próprio teatro através de referências de diversos encenadores.
Estética: artes visuais como possibilidade de referência e articulação desses conhecimentos.
Experiência: dentro da sala de ensaio criando uma luz para determinada cena, não como resultado, mas como um processo.
O curso de Iluminação da SP Escola de Teatro é focado nas linguagens teatrais, o que possibilita o aprendiz a conviver, e até mesmo atuar, em diversas áreas desta expressão. A lógica de formação consiste em dois anos de experimentações cênicas e aberturas públicas destes processos em que os aprendizes são lançados a uma experiência: pesquisar e montar uma iluminação teatral com aprendizes de direção, dramaturgia, cenografia, técnicas de palco, sonoplastia e atuação, o que exige dos aprendizes recursos de análises de dramaturgias, pesquisas artísticas para pensar o desenho de luz e a técnica necessária para montagem.
Guilherme pontuou durante o seminário a necessidade da prática para o desenvolvimento na aprendizagem, diante disso, a Sp escola de Teatro possui uma rotina que permite um aprofundamento na formação, entretanto, o tempo ainda é incipiente para a formação de um light design. Mas, é importante ressaltar que o curso cria grandes possibilidades para a continuação dos estudos da luz e principalmente para que esses aprendizes possam atuar no mercado de trabalho.
Com o mesmo objetivo de formar iluminadores a UNA oferece um curso de bacharelado em Design de Iluminação, com duração de quatro anos que possibilita formação técnica e teórica. A carreira inclui a dimensão técnica, bem como os fundamentos estéticos da luz, para colocá-los em prática. Nessa perspectiva, o treinamento é articulado com outras linguagens e disciplinas relacionadas à imagem, som, corpo e texto para pensar a produção artística e fundamentalmente às artes dramáticas.
O curso se enquadra como a quarta carreira das artes dramáticas na organização de departamentos da UNA, entretanto, o curso de cenografia se encontra como artes visuais e não como uma questão cênica, o que distancia a relação de trabalho direto entre as áreas.
Gonzalo, apresenta a estrutura pedagógica dos estudos da luz, de maneira bastante provocativa, em um cenário que denomina como “mesa de produção”, dividida em quatro partes a relação entre teoria e prática:
Indústria : que situa a obra em um contexto econômico específico.
Estética : dominante de uma cultura da qual se produz o trabalho.
– Literária
– Composição artística
– Conceitual
– Técnica
Ofício : requerido para trabalhar na área, no que diz ao industrial e técnico.
Pedagogia : organização que esteja de acordo para que seja possível exercer o trabalho.
Neste sentido, toda obra seria uma mistura desses quatro elementos e no que diz respeito a um processo de formação, um equilíbrio entre elas, para Gonzalo, não podendo haver um teatro sem a evolução dessas quatro partes em sintonia e sinergia. Compreendendo assim, a educação com uma dessas partes do sistema produtor, portanto, um iluminador deve conhecer essas quatro linhas de pensamento para a construção da sua própria expressão através da linguagem da luz.
Gonzalo, pontua uma dificuldade em relação às referências pedagógicas, que em sua maioria, são relacionadas a construção de pensamento norte americano que privilegia basicamente a construção da estética naturalista, e dessa forma os latinos americanos não possuem acesso livre a esse formato de formação, no que diz respeito a referências e principalmente tecnologia e infraestrutura. Durante sua fala ele conclui que, se a luz é uma linguagem que comunica, portanto, uma estética literária, o texto é colocado como solução, logo, transformamos nossa carência em solução, texto como forma de signo.
Muitos estudantes de iluminação dominam a escala cromática de cores, a composição física da luz, dentre outros saberes acadêmicos conceituais, que não são aplicados por diversos motivos, dentre eles, a ausência de uma política de inserção desses estudantes em teatros que possam usar na prática da produção artística. Outra dificuldade que se apresenta é a carência de infraestrutura e o percalço de lidar com tecnologias antigas que não acompanham o processo de formação e desenvolvimento da área, o que corrobora para a desvalorização da carreira de iluminador na Argentina, sendo assim, privilegiando um quadro de que, para a produção de uma boa peça é preciso apenas um bom ator e um bom texto.
Portanto, Gonzalo conclui que, este sistema de produção pedagógica não favorece o trabalho em organizações não sistemáticas, porque não favorece a instauração de um pensamento próprio, não instaura a crítica como um projeto cênico, não fortalece o desenho cênico visual sobre as categorias linguísticas, não coloca a luz e o desenho como uma questão política e social ancorado em uma política de produção. Lançando a pergunta – Existe a possibilidade de pensar uma luz latino americana? Com objetos próprios de uma maneira própria? Seria possível pensar uma forma de criar uma periferia do sistema acadêmico consolidados? Sendo assim, produzindo produtos e pensamentos que os sistemas centrais já não pensam mais.
Guilherme Bonfanti respondeu a provocação dizendo: Tenho, de maneira intuitiva, pensado na produção latino americana e nas suas possibilidades materiais de construções artísticas, visto que, o meu processo de aprendizado foi construído através da prática e de experiências como o Teatro da Vertigem, pois muitos trabalhos do grupo são desenvolvidos na produção do site specific3, o que estimula a criatividade na elaboração de um projeto. Na escola os aprendizes também precisam lidar com essas limitações, procuramos oferecer alguns recursos técnicos e de equipamento na sede Roosevelt, mas na sede Brás, por exemplo, eles se deparam com um ambiente não específico para a construção de um desenho cênico, o que permite criar um espaço de novas possibilidades de produção de linguagem através da luz.
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