A ideia destes relatos de processos no Teatro da Vertigem é mapear a criação e seu processo. Os espetáculos Bom Retiro, BR3 e Kastelo também renderam relatos e foram publicados no site da SP ESCOLA DE TEATRO (www.spescoladeteatro.org.br/cadernosdeluz ). Por isso muitos dos dias as anotações não têm necessariamente a ver com luz, mas com o caminho traçado pela luz dentro do processo de construção do espetáculo. Não tenho nenhuma outra pretensão além de abrir meu processo, minhas duvidas, descobertas, incertezas. A escrita obedece o calor dos fatos e muitas vezes é até banal, assim como são algumas duvidas ao longo do percurso de uma criação.
O projeto teve seu início aqui, neste período. Um intervalo entre Bélgica e Avignon, de nossa montagem dentro do projeto Ville en cene. Lili( Eliana Monteiro ), Duran ( Antonio Duran) e eu fomos a Praga e ficamos por 10 dias fazendo o percurso da vida de Kafka, desde onde nasceu até onde foi enterrado. Nestas andanças líamos e discutíamos o livro, Carta ao Pai, e questões relacionadas a este universo. Ali naquele momento o projeto se desenhou, embora tenha nascido antes, mas digamos que foi nesse período de pesquisa de campo que começou a tomar forma.
Algumas anotações do Duran:
“ Pesquisa “Carta ao Pai” e Franz Kafka em Praga (Praha) Síntese dos relatos diários
10/06/2014 – terça-feira
Querido pai:
você me perguntou recentemente
por que eu afirmo ter medo de você (p.07)
Primeiro dia de reconhecimento de Praga, primeiros contatos: caminhada pelas ruelas e curvas do antigo bairro judeu e outras deambulações a esmo. Ponte Carlos IV com turbas de turistas. Início da leitura de Carta ao Pai no Café Louvre.
Um moço bem magro, uma velha branquinha que vende rosas e o homem que se corta e pede esmola foram pessoas encontradas que, de algum modo, representavam a dor. Seja ela autêntica, seja representada. Poderiam ser personagens de Franz.
Na arquitetura, o muito antigo, o novo e mais o art nouveau;
Carta ao pai: uma resposta, num diálogo direto, meticuloso, franco e, sobretudo, cuidadoso. Uma carta de amor?
O peso da culpa, do medo e da opressão. O sentimento de nulidade. Também uma proposta de paz.
Uma questão recorrente: o que é ser forte e o que é ser fraco. Uma contradição? O que mudou nesses 100 anos?
Sobre a visão de mundo do pai, seus métodos pedagógicos e os efeitos: o castigo na varanda, o estímulo ao bater continência.
Ficava grato porque você parecia não notar minha aflição e também
tinha orgulho do corpo do meu pai. Aliás, essa diferença entre nós
subsiste ainda hoje de forma parecida.(p.15)
11/06/2014 – quarta-feira
A isso correspondia sua superioridade espiritual.
Você havia subido tão alto, contando apenas com a própria força,
que tinha confiança ilimitada na sua opinião pessoal. (p.15)
Museu Kafka, sensação de vazio e afogamento, sons de corvos.
Entre as casas onde morou, a escola e, mais tarde, faculdade, amigos, trabalho e lazer, um circuito de deslocamentos pequenos e em círculos.
Fascínio de Franz pelo pai;
O pai não tinha noção da sua força, além de ter razão sobre tudo.
Em um momento de forte expansão da indústria, Franz trabalhou em uma empresa de seguros contra acidentes do trabalho e teve contato com os trabalhadores, que sofriam acidentes e perdiam parte das mãos e dos dedos. Ele chegou a elaborar um manual de prevenção de acidentes no trabalho.
Sensações de desequilibrio, labirinto, e confusão entre o real e a ficção.
Um narrador da dor: lucidez e olhar analítico em direção às sombras. Uma dor lúcida que iluminava por dentro.
Questões que marcaram:
-a culpa por não se conseguir ascender socialmente;
-a imagem que criamos de nós mesmos é maior do que somos;
-não queremos falar de uma Carta ao Pai do Kafka do início do século XX.
Questões em processo: por que criar uma obra a partir de Carta ao Pai? Por que fazer esse trabalho?
Talvez as respostas a estas duas perguntas estejam na relação familiar que Lili tem com os seus. Trabalho, presença paterna, relação com os irmãos. Creio ter sido esta a motivação de se interessar pela Carta ao Pai.
“Mas você estava ali, diante de mim, e tudo parecia ser novamente “do contra”,
quando era apenas a consequência natural da sua força
e da minha fraqueza.” (p.23)
12/06/2014 – quinta-feira
Seus recursos oratórios extremamentes eficazes e que nunca falhavam,
pelo menos comigo, eram: insulto, ameaça, ironia, riso malévola e
– curiosamente – auto-acusação. (p.23)
Retorno ao museu Kafka e visita ao antigo cemitério judeu, no bairro Josefov. Relação entre memória e mercantilização da memória. A memória como produto?
A diferença entre a força de inscrição na história do genocídio dos judeus versus os genocídios dos armênios e congoleses, por exemplo. Há mais memória para aqueles que pertencem às classes mais abastadas e influentes economicamente?
Camadas de corpos sob a terra formaram, topograficamente, pequenos morros. Desejo de ver gente que não seja turista. O turismo como uma forma predadora de se relacionar com a cidade. Turistas orientais jogando lixo no rio, da ponte Carlos IV.
Uma discussão sobre os temas da racionalidade e da sensibilidade. Sobre a vaidade, o academicismo, a diferença entre razão e conhecimento…em andamento.
Além do mais, das muitas vezes em que, na sua opinião declarada, eu teria merecido uma surra,
mas escapara por um triz por causa da sua clemência, se acumulava de novo um grande sentimento de culpa.
De todos os lados eu desembocava na sua culpa” (p.30)
Pesquisa teórica – Agosto a Dezembro de 2014
Encontros quinzenais com equipe de criação: Direção, Musica, Cenografia, Video, Iluminação, Dramaturgia, incluindo aqui Engenharia de áudio.
Estudo: Discussão sobre conceito do trabalho.
18.08
Documentário, quem foi Kafka de Richard Dindo Discussão sobre o filme
03.09
Estudo de capítulos 2.1.1 / formação familiar de Franz entre os Kafka e os Lowy e a 2.1.2/ A literatura como mediação entre o sujeito Kafka e o mundo exterior da tese de doutorado “As múltiplas religiosidades na literatura de F. Kafka” de Mauro Rocha Batista
18.09
Estudo sobre o momento politico na época em que viveu Kafka e as implicações do Imperio austro Hungaro em sua literatura
05/10
Continuação do estudo iniciado em 18.09
20/10 e 05/11
Estudo e discussões sobre o periodo da infância de Franz Kafka a partir da obra de Ernest Pavel (O pesadelo da razão)
A partir de 05.11 encontros com Peter Pal Perlbart e Jorge de Almeida em datas a serem definidas de acordo com a agenda dos convidados. Palestra sobre aspectos da obra de Franz Kafka.
Proposta de Cronograma: 12.12
Leitura e discussão do texto do espetáculo com elenco e demais criadores. 19.12
Leitura e discussão do texto do espetáculo com elenco e demais criadores. Janeiro
Dramaturgo finalizando texto. Fevereiro a Abril
02.02.2015 a 30.04.2015
Ensaios a partir de 02.02.2015, trabalhos de segunda a sexta com período de quatro horas por dia.( sede Vertigem )
05.04
Entrega de riders, plantas e projetos finais para licitação. Maio
30.05
Entrega dos projetos executivos a partir dos riders licitados. Ensaios no espaço definido para apresentação
15.05.2015
Inicio de montagem de cenário, luz, som e vídeo.
São Paulo, 18 de agosto de 2014
Reunião com Lili (diretora), Erico, Theobaldo (musico) Marisa Bentivegna (cenógrafa), Grissel Piguillem (vídeo videoartista), Kako Guirado (engenheiro de áudio) e Roberta Val (produtora naquele momento), Guilherme Bonfanti ( iluminação) .
Vimos o documentário sobre Kafka com depoimentos de sua mulher, Max Brod e outros. Fala-se muito de seu temperamento depressivo, taciturno, da imagem que se criou do monstro que era seu pai. De sua personalidade introspectiva.
Lili me chama a atenção para uma imagem de uma sombra gigantesca de uma escultura nas janelas de sua casa. Como ele tinha uma visão que nos parece não ser totalmente a realidade pensei em usar uma escultura pequena e transforma-la em uma imagem gigantesca. Mas o publico pode ver esta escultura e ai fazer a leitura desta projeção falsa.
Percepção, recepção, arquitetura, vazio existencial, ilusão, imagem em movimento, desfocada, real desfigurado em contato com a ilusão do real, escada com espelhos, sal com espelhos, andar em círculos, janelas, sonhos,
Cinza, escuro, carvão. Penso em uma cidade escura e com dificuldade de se enxergar. Franz era incapaz de viver, não tinha habilidade para viver, não tinha refugio, não tinha abrigo.
Deste encontro até o dia do inicio dos ensaios trocamos de dramaturgo. Saiu Antonio Duran, virou dramaturg, e entrou Alexandre Dal Farra. Tratamos de ter encontros esparços e informais discutindo o que seria o processo e tratando de fechar elenco.
Neste meio tempo também tratamos da renovação de contrato com nosso patrocinador, Petrobras. O que nos gerou imensa incerteza devido ao ano politico muito ruim que enfrentamos.
Saiu nossa produtora Roberta Val e entrou Gabriela Gonçalves.
Ou seja, um período turbulento e de muitos acontecimentos. Uma certa reestruturação administrativa.
Nosso contrato de patrocínio foi renovado somente em fevereiro de 2015 e a primeira parcela do contrato entrou somente em maio de 2015.
Muita incerteza e um processo que se iniciava, sem dinheiro, mas com a promessa de entradas.
Em meio a isto tudo discutíamos com o SESC a possibilidade de eles comprarem o espetáculo, o que foi se estender até final de maio de 2015.
Incertezas financeiras nunca nos impediram de iniciarmos os trabalhos que fizemos, mas isto um dia pode ter um final nada feliz.
São Paulo, Bela Vista, sede do Vertigem. 16 de março de 2015 Primeiro dia de trabalho com estagiários e elenco.
Encontro com os estagiários. Vieram pessoas de cenografia, técnicas de palco, luz, dramaturgia, direção, a grande maioria da SP ESCOLA DE TEATRO, num projeto chamado Kairós que disponibiliza bolsas de estudos para aprendizes da Escola e como contra partida eles participam de estágio, o projeto KAirós é maior que isso, mas me restrinjo a esta parte dos estágios.
Ah como eu gostaria que nos anos 90 existisse algo parecido e eu pudesse estagiar com Gerald Thomas…
Deveria ter vindo sonoplastia, não veio.
Fizemos uma conversa inicial para termos algumas regras de trabalho. Depois desta conversa teremos a presença dos atores e do dramaturg, Antonio Duran e iremos iniciar o trabalho com todos.
Na luz tenho alguns eixos de pesquisa: 1- O trabalho.
2- Maquinas (Dispositivos, mecânicos e eletrônicos de disparo de luz). 3- Tecnologia.
Uma ideia possível, para estar de acordo com esta questão de não dormir, e da luz como motriz da escravidão moderna, me faz pensar em uma luz que não se apaga nunca.
Minha dinâmica de trabalho será:
1- Organizar o material de trabalho: lâmpadas, cabos, comandos etc. 2- Estudar o texto, o livro e as proposições teóricas da semana.
3- Preparar instalações para os workshops e sala de ensaio. 4- Refazer a instalação de luz da sala de ensaio.
Afonso: ( saiu na primeira semana )
Danielle Meirelles: possível operadora/assistente. Camille Laurent: vem somente alguns dias.
Chico: vem somente nas sextas. Irá preparar o interface digital para a segunda temporada, um provocador/critico dentro do projeto de luz.
Felipe Lucas Silva ( Tchaça): minha missão é transforma-lo em um técnico preparado para tudo.
Naiara Abraha: chegou na segunda semana
Natalia Lima: saiu no primeiro dia
Piu: vem de vez em quando grata surpresa
Referência trazida pela Griss, Boltansky Chiapello.
Outra referência trazida pelo Beto, O Operário, ou o Maquinista, com Cristian Bale. O filme SOLARIS, do Tarkoviski. Ninguém dorme e começam a delirar.
Algumas ideias de Hana Arendt, a solidão e a vida privada, sem eles não existe substrato para a vida pública.
A instalação do Olafur Eliasson, o quadrado branco com fumaça, pode ser uma referência.
Dois dias e uma noite dos Irmãos Dardene. Trechos da fala do Duran:
Pertencimento,
o que motiva as pessoas
a trabalhar.
Autoridade paterna x punições. Patologias contemporâneas advindas da ética do trabalho. Se alguém não consegue alcançar algo a culpa não é dele.
Fabrica que produz subjetividades, de técnicas, de comportamento, de técnicas terapêuticas.
Controle social terapêutico, dentro do ambiente da fabrica, das linhas de produção. Controle social terapêutico exercido pela empresa, pelas instituições, no inicio do século XX. Sintomas de inação, falta do sentido de pertinência e não falta de dinheiro. Estudo sobre funcionários, perceberam maneira diferente de supervisionar funcionários, lado humano da empresa. Estilo de praticas e teorias percebem-se ideais mais humanistas, não mais tratando o trabalhador como criação, mas como parceiro, dando a ele uma ideia de fazer parte da empresa. O texto “ Trabalho da depressão” de Wladimir Safatle, uma das referencias de Duran.
O capitalismo se auto renova por conta das criticas que são feitas a ele, estas criticas servem para ele se ajustar e se perpetuar.
Rigidez do tempo controlado, tempos impostos, desmotivação dos jovens para os valores existentes no ambiente de trabalho, fazendo com que eles prefiram um trabalho informal, isto fazia com que evitassem o trabalho formal, procuravam maior flexibilidade de horário, iam em busca de autonomia. Recriação do núcleo ideológico do trabalho,
Segurança, estabilidade, respeito a hierarquia.
Re engenharia, flexibilização das normas antigas de trabalho. Estar há muito tempo em uma empresa, hoje é sinônimo de acomodação.
Esgotamento da ética do trabalho. Um novo profissional surge, comparado a um artista, com sua liberdade de ser, de se vestir, de ir e vir. Isto passa a ser a busca de um novo profissional.
Reconciliação de trabalho e vida.
Pessoas devem se tornar empresas de si mesmos e devem se unir a outras empresas, sendo comandados por estas novas empresas.
Para o capitalismo se vc não consegue se expressar, na empresa, isto é um problema seu, pois tudo esta dado.
Empresas que quebram com a rigidez no trabalho, metas, roupas menos formais, pensa-se aí na produtividade. Como fazer o funcionário produzir mais e mais, atender ao capital e fazer com que gere mais lucro e deixe seus funcionários felizes.
Controle imposto ao operário não é mais aquele do homem maquina, mas do empreendedor e ele tem que ser flexível. Ele deve se adaptar em permanência ao mundo que perdeu exatamente sua permanência, mundo feito de fluxos e provisoriedade, a todo momento deve-se decidir. Isto gera uma implosão depressiva. O que fica para mim é a sofisticação a que o capitalismo chegou onde o trabalho continua escravo, alienante mas com uma impressão contrária, de pertencimento, de parazer e de liberdade. Hj é mais difícil, em alguns casos, falar mal de seu emprego, de sua empresa. Existem empresas que resolveram bem a relação com o parazer, e com o pertencimento. O chefe não é mais repressor, e a participação, aparentemente, é maior.
Vimos um filme.
Oferta determinando a demanda e não mais o contrário. As coisas que se possuem acabam por possuir-nos. Moradia, trabalho, consumo, comida.
Fica-se deprimido pois tudo esta a serviço do Capital, comida ruim, moradia ruim, consumo exagerado, parazer imediato na alimentação e nas regras do consumo. O sujeito não tem desejo próprio é manipulado. Miséria em todos os lados, escassez reverso da moeda de falsa abundância. O ser humano chamado como escravo. Cenas da indústria alimentícia, de frango, chocantes. Comparativo com campos de extermínio de judeus. Capitalismo selvagem nunca para, produzir cada vez mais, crescer cada vez mais, a qualquer custo, destruindo o planeta. Trabalho vem do grego tortura. Atividades alienantes, linhas de produção de uma indústria de carros, de televisores, de produtos eletrônicos. O trabalhador chamado o tempo todo de escravo moderno. Diversão, o tempo livre também esta relacionado com o trabalho e é criado para ganhar mais força de produzir para a indústria, para o capital. O filme trata de mostrar que tudo conspira a favor do capital. Nosso corpo como mercadoria. Obediência, submissão um binômio dos tempos modernos.
Achei o filme um pouco xiita e exagerado na luta contra o “sistema”, de mão única. Griss vai estudar um pouco algumas patologias como a Alexetimía, e a resiliência, as duas tem a ver com um ser que tem dificuldade de se expressar, e portanto sair em frente e tomar decisões, e por outra parte como um sujeito dentro do capitalismo e do trabalho.
São Paulo, 17 de março de 2015
Passamos a tarde, Natalia, Tchaça, Danielle e eu arrumando a casa. Separamos todos os cabos, organizamos cases, penduramos coisas. Um dia cansativo e produtivo. O que fiz foi preparar uma ambiência com diferentes possibilidades, lâmpadas de vapor, refletores convencionais(Fresnel e PC), meus lampadões, luminárias industriais. Isto me dará mobilidade para que eu possa atender a demandas dos atores e da cena e para que tenhamos uma ambiência mais interessante para os atores.
Conversa com Mauricio Perussi sobre o livro 24/7, Capitalismo tardio e os fins.
Falou um pouco sobre um livro da Marilena Chaui, a ideologia da competência. Ligação entre o efêmero, o narcisismo e o sedentarismo.
24/7, Capitalismo tardio e os fins.
Construção social do tempo pela iluminação, luz das fabricas. Sedentarismo iluminado das TVs, da tela dos computadores, os smart phones e dos tablets. O autor fala da luz como um elemento importantíssimo na construção da escravidão do homem pelo trabalho. Estirpação do sono. Isto vem da observação de um pássaro que fica 7 dias sem dormir. O exercito americano passou a pesquisar este pássaro para tentar usar isso nos soldados americanos. É uma ideia precursora do consumidor e do trabalhador, que consumiriam e trabalhariam sem dar chance ao ciclo natural. Outra ideia veio da Russia numa tentativa de satélites com espelhos deixarem áreas da Siberia sempre de dia para poderem trabalhar sem parar e produzir. Esta iluminação contínua possibilitaria uma circulação ininterrupta de mercadorias. A falta de sono aniquila o individuo e produz a submissão. Num estado de ausência de sono o sujeito inventa coisas, trata-se aqui de um contraponto a esta teoria e prática.
Sono é uma afronta ao capitalismo, o tempo de descanso é caro demais. A iluminação publica esta associada a produtividade. Insensibilidade e amnesia coletiva, e ai vem a força homogenizadora. Sono é um pilar social, a pessoa adormecida é vulnerável e uma sociedade inabalável é a que garante este individuo dormindo.
Focault, sociedade disciplinar. Gattari e Deleuze falam sobre a sociedade de controle. Submissão, e controle estão embutidos aqui nesta questão do sono, do 24/7.
Na guerra os ataques noturnos são muito eficazes, pois pegam as pessoas em seu estado de vulnerabilidade. Olhar de Gorgona (o olhar de Gorgona paralisava, por isso a analogia), é o termo usado para este ataque.
Colapso do sistema cognitivo. Exemplo de filme SOLARIS, do Tarkovski Paraticas de tortura; não deixar dormir numa sala branca totalmente iluminada.
Anos 90; tecnologia e poder se fundiram, Microsoft. Isto foi criando inidivíduos dóceis, submissos.
Estratégia de desempoderamento.
A TV inseriu pela primeira vez no ambiente domestico uma nova forma de disciplina, que foi se desenvolvendo pelo celular, computador.
Tecnologia parece ser um vilão para o autor .
Dominio, vitória e posse são coisas que os sites trabalham no internauta e isso vai criando um uso compulsório. Existem pesquisas que associam o uso da tecnologia com o uso da droga.
Imperativo da comunicação. Existe esta urgência em se comunicar e isto alimenta a rede.
Atrofia da paciência. Sono é uma experiência do abandono. Sono é imcompatível com o capitalismo.
Amor, afeto e trabalho para Reich e Freud se forem equilibrados produzem uma sanidade.
Creio eu que aqui vivemos uma espécie de capitalismo rudimentar, pois as questões básicas das relações de trabalho em muitos casos não estão contempladas, vide várias situações de escravidão ainda existentes nas relações de trabalho no Brasil. Em fazendas, no bairro do Bom Retiro em suas confecções, na extração da cana, em fazendas em Minas e no Nordeste e em diversos lugares que nem temos noticia. Até em São Paulo com os catadores convivendo ao lado de carros de luxo nas ruas.No Brasil, estamos longe desta sofisticação, ou tal;vez ela exista em alguns lugares, em menor número.
Se um trabalhador não se sente mal em fazer determinadas coisas não é um problema, trata-se de uma função um trabalho, que alguém deve executar e é necessária, a questão esta na remuneração, na distribuição de renda, penso eu. Complexo pensar tudo isso sem cair em equívocos e visões unilaterais.
São Paulo, 18 de março de 2015
Conversa com Erico Theobaldo sobre a musica em Kafka Um dos textos, usados pelo Erico foi The Kafka Projects.
Kafka se dizia amusical (unmusical) sem musicalidade. Não conseguia compreender a complexidade de um concerto, de uma sinfonia. Vivendo onde vivia, isso mais parece uma provocação. Não sabia diferenciar a opereta Viúva Alegre de Tristão e Isolda. Kafka dizia que sua escrita não era musical. Kafka não era um amante de musica.
Eu sou feito de literatura,
nada mais…
– isso deixa claro que todo o resto ele deixou para traz, sexo, diversão etc.
Analisam textos que ele escrevia no trabalho. Musica em um plano não humano, algo que não se entende de onde vem, como vem. Em metamorfose tem uma situação em que Greg, quando vira barata, consegue ouvir a musica que sua irmã toca. Santa Cecilia e poder da música, do romantismo alemão. Três rapazes tentam roubar um convento e ao ouvir uma determinada musica que esta sendo tocada enlouquecem, o que reforça a ideia de que a musica é algo sobrenatural.
Ouvimos algumas musicas, coisas que Kafka gostava de ouvir. Ouvimos trechos da Viúva Alegre e trechos de Tristão e Isolda. Na audição destas musicas pode se comprovar que era impossível ele não diferenciar uma musica da outra, isto deveria ser uma provocação.
Neste período do romantismo a musica era muito rígida e obedecia às tonalidades, trabalhavam em uma escala muito formatada e rígida, depois deste período é que se começa com atonalidade e a quebra disto. Naquela época era muito comum os concertos em Dó maior, em Ré menor etc.
A discussão girou em torno destas questões musicais, do porque Kafka não gostava de Wagner e preferia marchas americanas. Era um homem que convivia num meio intelectual e esta opção musical mais parece uma provocação.
Ele não gostava de barulho e preferia escrever a noite e mesmo escrevendo a noite costumava por dois travesseiros nos ouvidos e amarra-los com um cinto para não ser perturbado.
Vimos um vídeo sobre o workaholic, uma palestra de Scarlett Marlon no Café Filosófico.
A vida pessoal se confunde, ele ve o mundo pela lente do trabalho. A vida domestica, a ginastica, a escolha de suas roupas, a absorção de mais conhecimento
O trabalho é um principio hegemônico que rege a vida do individuo. Divertimento
A incapacidade de ficarmos em repouso em nossas casas. O ser humano precisa se ocupar com as mais diversas atividades para se esquecer que é um ser para a morte. Para escapar de si mesmo que ele se lança nesta rotina de trabalhar sem parar, de se ocupar, isto o faz esquecer de sua condição de ser mortal.
Alienação de si mesmo. Individuo despossuído de sua própria identidade, e seus limites, não só por não ter mais vida interior. Porque interior e exterior se interpenetram.
Ele se torna um outro para si mesmo, um estrangeiro para si mesmo, não se reconhece mais e se imagina um outro, não ele. Alguém que cumpre metas.
O workaholic está inteiramente possuído pelo trabalho e perde sua autonomia, alguém controlado e que não controla mais o tempo. Questões como o que eu fiz no meu dia? Fica difícil enumerar a quantidade de pequenas tarefas. Perdemos o controle de nosso próprio tempo.
Trata-se de uma ideologia:
devoção ao trabalho.
O trabalho dignifica o homem. O trabalho é um valor.
Estamos falando de nossa sociedade. Todos queremos trabalhar.
Não podemos imaginar uma vida sem trabalho, fomos muito bem adestrados a isto.
O trabalho domina a existência social, o cotidiano e a vida privada.
Exemplos:
trabalho de parto, é preciso trabalhar a relação, os pais tem que se dedicar ao trabalho de educação dos filhos, o trabalho do sonho (na analise), trabalho terapêutico, o trabalho voluntário e ai seguem infinitos exemplos.
Degradação do trabalho. Religião:
Expulsão de Adão e Eva do Paraiso, lá gozavam de um ócio feliz, mas queriam conhecer mais. Uma vez expulsos foram obrigados a prover seu próprio sustento, teriam que trabalhar.
História:
Na Grecia e em Roma era proibido que os homens livres trabalhassem. Um valor absolutamente indispensável era o ócio para aprimorarem as qualidades do espirito, se dedicarem as artes, a filosofia, a dança, a ginástica.
Etmologia:
Trabalho vem de um termo latino “ triparium “, instrumento de tortura. Era usada para empalar os escravos rebeldes. Se espetava pelo anus uma estaca e o deixava morrer.
Labor:
de um termo latino que tem a ver com fadiga, cansaço, peso. Em que lugar então o trabalho passou a ser algo positivo ?
No sec XVIII/XIX. A revolução industrial e ai aparece a classe trabalhadora e o direito ao trabalho. Com a revolução francesa e a declaração dos direitos dos homens, surge este direito. A partir dai então o trabalho passa a ser valor central da sociedade. Meados do sec XIX ocorre uma mudança no conceito da cultura que deixa de ter a ver com o próprio espirito e com o aprimoramento pessoal e passa a contribuir para a capacitação profissional e o mesmo com a educação, que perde o objetivo de formação e se torna tb capacitação, para ganhar cada vez mais dinheiro.
Em 1860/65 o governo inglês cria a jornada de trabalho de 08 horas, antes era maior. E a produção inglesa cresceu, com a diminuição das horas de trabalho. Com a automação e a mecanização do trabalho tornam o tabalho cada vez mais desnecessário, pois pode-se trabalhar menos.
Ela cita “ O direito a preguiça” de Paul Lafargue, primo de Karl Marx.
Vimos o Café Filosófico com Oswaldo Giacóia da serie sete pecados capitai no site da CPFL cultura, Preguiça, muito interessante o que ele fala do ócio, da preguiça como um momento de você se encontrar consigo mesmo.
Capitalismo e seus mecanismos de dominação, a reinvenção do capitalismo para se manter em cena, a sofisticação dos seus mecanismos. Sociedade de controle, e tudo o que torna o homem um escravo de si mesmo, criando falsas necessidades e o colocando em uma roda em que a vida material assume um lugar que o faz trabalhar para poder consumir. O trabalho como algo alienante, depressivo, do desprazer e do campo do sofrimento, não gratificante. Por fim, tudo isso transforma o homem em escravo. Num contra ponto tem a condenação da preguiça, do ócio, como algo nocivo.
Nesta conversa surgiu também a precariedade deste capitalismo aqui no Brasil, onde ainda persiste o trabalho escravo, ou seja, não atingimos o nível do capitalismo de países em que os direitos dos trabalhadores estão totalmente assegurados, países em que benefícios sociais estão conquistados Claro que Kafka veio a tona, a questão da relação dele com a musica, sua relação com o pai, com as mulheres e com o trabalho.
Acho que aqui vai um super resumo da trajetória destes três dias e minha interpretação destas discussões. Reforça para mim a ideia de criar uma relação dos operadores com a encenação como uma relação de trabalho, eles estão ali executando algo que faz a história acontecer, ser contada, diante do publico temos uma relação de trabalho, as máquinas estão presentes, vemos os mecanismos criando atmosferas. Reforça para mim também a ideia de criar maquinas, dispositivos para que os próprios atores acendam e apaguem as luzes das cenas.
Amanhã lemos o texto.
São Paulo, 19 de março de 2015
Leitura do texto. Uma certa confusão pois o texto não tem nome de quem fala, não se trata de um texto tradicional e isto dificulta a leitura e o entendimento. A leitura dos atores levou o texto para algo anedótico. Muitas risadas. Acho que a presença dos estagiários imprimiu um tom na leitura que trouxe um humor que não me parece existir no texto. Atores + plateia gera um certo exibir-se e querer se comunicar.
Creio que devemos passar por um trabalho de limpeza e entendimento do texto para que as leituras fluam mais, talvez eliminar a platéia.
Espaço e tempo não existe, parece um lugar sem portas. O tempo e a vida andando sem parar, a ausência de espaços de tempo, de vazios não existem no texto. Questão do Édipo, o filho mata o pai e bebe seu sangue, para tentar pertencer.
Ninguém se salva, ou somente a Julia? O personagem do filho assiste a própria história e é passivo a isto. Os monólogos, com as narrativas desdramatizam um pouco as falas. Monólogos longos sem ação, a ação esta na fala. Tem um tom cíclico, as coisas não se fecham e dão saltos. Ele sempre se apega a algo que põe ordem na vida dele, esta pautado pela ordem. Uma pessoa totalmente sem autoridade, submisso ao outro. Não sabe estabelecer relação com o outro.
Tudo gira em torno do falo, e tem um castramento, ele foi minado na fase de seu crescimento. O interno, a casa, prende muito os personagens. O filho do filho somente quando sai a rua é que se despreende e toma a frente. O tempo da morte dos dois.
Para Miriam é muito mitológico, pois o texto toca em histórias que a gente conhece, o ciclo da vida. As relações tipificadas, personagens tipificados, bidimensionais, gosta muito do humor e da inação, de algo que não se realiza, personagens que não agem. Saltos temporais, e espaciais. Rimos da inadequação, da falta de jeito e de sentido. A questão arquetípica fica muito forte, as relações de pai e filho, Freud fala do totem tabu, mito que deu origem a família. Pai que transava com todo mundo, filhos se organizam e matam o pai e a partir dai se institui o modelo familiar que conhecemos e com suas regras, não se pode mais transar entre si. O foco esta nas relações destes personagens.
Para Petrin os personagens se apresentam derrotados, personagens que vivem na banda podre da sociedade. O filho tenta uma ascenção social mas não consegue encontrar respostas para isso. Os personagens não vislumbram nenhuma possibilidade de mudança, mesmo o filho que age, entra na via errada, da violência. O tempo é surpreendente, não existe um tempo natural. Tem dificuldade de enxergar os personagens nesta fabrica. O filho passa a peça inteira perplexo, ele não acha uma fresta para escapar. Cenas muito fortes, o fez lembrar de Ralé do TBC.
Para Lili interessa este homem fragmentado, este homem pós-moderno. A primeira ação dele é mudar o sofá da casa dele.
Para o Beto ele não consegue ver nada relacionado ao trabalho, talvez a ideia venha pela questão do automatismo, mecanização. Filmes referencias para o Beto: O Operário e O Duplo. Gosta muito das quebras, das passagens de tempo. Falou do que me interessa pesquisar; automação, mecanização.
Todos levantaram pontos positivos do texto e me parece que tudo certo, só acho que precisamos desenvolver mais o Pai (Petrin) ele começa e desaparece.
Griss já tem workshop para segunda e eu penso em uma instalação que traga esta ideia de muita luz e uma rotina incessante, sem começo e sem fim, uma espécie de moto continuo. Penso que temos que trabalhar para trazer o ambiente fabril e não mais lutarmos contra isso.
É a ideia da direção, temos que convergir para isso.
São Paulo, 20 de março de 2013.
Segunda leitura do texto.
Começamos e a ideia da Lili é que todos que tenham proposição de corte o façam. Surgiram várias proposições. Seguimos lendo e sugerindo cortes tentando preservar questões de estilo do autor, para não descaracterizar sua escrita. Algumas repetições, narrar e agir etc.
São Paulo, 23 de março de 2015
Começamos o dia de trabalho lendo as 10 paginas que restam do texto para finalizarmos o trabalho de corte.
Em seguida inciamos os workshops. Estou junto a Dani e a Griss elaborando algo ligado a máquina. Uma peça que criei com 12 íris de elipsoidal acopladas em uma única peça e com um mecanismo que abre e fecha todas ao mesmo tempo. Ainda não havia usado esta peça que foi criada na época do DIDO E ENEAS. Pensamos em uma maquina que corta luz, mas e dai? O que isso pode trazer de interessante para a cena? A ideia é de um projetor que faz um recorte na peça e ao abrir a íris temos 12 círculos de luz que ao invés de terem somente luz tem uma imagem. As imagens podem ter relação com o pai, com o filho, com a relação de pai e filho, e esta relação é sempre cortada pela luz. Como diz o aviso “CUIDADO-HOMENS TRABALHANDO”.
Hoje estou muito desmotivado pela gripe que me pegou. Fazia tempo e este trabalho sentado só me da vontade de voltar para casa.
Bateria de workshops. Erico, Rafael, Beto, Miriam, Petrin, Mawusi e Griss comigo.
São Paulo 26.03.2015
Passaram-se dois dias de workshops. Surgiram coisas muito interessantes. Tentativas de tratar as narrativas, tentativas de trazer e aproximar o texto para o ambiente fabril. Marisa fez dois workshops muito fortes visualmente e com proposições interessantes, tanto visualmente como conceitualmente. Nas duas situações tem o trabalho como foco. Sempre uma figura paramentada para o trabalho com ferramentas e com uma final estranho.
São Paulo 27.03.2015
Terminamos a segunda semana. Agora os atores se concentram em trabalhar o texto com Lili, na mesa. Duran e os seus estagiários tratam de cortar o texto. Nós aproveitamos o tempo para por os equipamentos para funcionar, e fazemos pequenos testes. Estamos nos preparando para quando começarmos a levantar as cenas. A proposta da Lili é fazer este trabalho em quatro/cinco dias e chamar o autor, Alexandre Dal Farra, para uma leitura e ai discutir os possíveis cortes que ainda faltam.
Hoje discutimos um pouco sobre minhas proposições, conversas com parte da equipe de luz. Aproveitei a presença do Chico Turbiani para discutir conceitualmente com ele, acho bom pois os meninos que estão no estágio nem sempre tem questionamentos, mas com Chico tenho que justificar algumas escolhas, o que para mim é bom.
Idéias/Conceitos
Tenho até aqui o conceito das maquinas e da luz fabril, do precário, do antigo e do novo, alta e baixa tecnologia, a manipulação presente na cena. A técnica como se fosse a presença dos trabalhadores nesta fabrica de histórias, que é a própria peça. Alguns conceitos me acompanham desde o inicio do vertigem. Invenções de maquinarias para a luz, precariedade…
Confesso que é muito pouco para mim, mas é um ponto de partida.
Tenho claro que a luz branca e fria fará parte de meu projeto. Tenho certeza que vou reproduzir um padrão de luz de fabrica com uma instalação de calhas com fluorescentes. Devem estar todas na mesma altura, uma distribuição simétrica, mas aí pretendo, ao longo da peça transformar isso. Mexer na altura, mexer na maneira como estarão ligadas etc, vamos ver.
Vou iniciar uma pesquisa de locais que vendam sucatas industriais e ali pretendo tirar meu material para construir luminárias de fábrica onde usarei as lâmpadas de descarga. Penso em usar o elemento da indústria, repetir o padrão de instalação mas utilizar algum elemento que não necessariamente seja de luz. As fluorescentes serão postas em calhas mesmo, mas talvez as use soltas, em pé, terei este elemento e farei uma variação de sua utilização até esgotar seu uso. Faço aqui uma relação com o trabalho e a relação com esta fabrica de reciclagem que a Lili fala. Usamos algo até o fim e dai o descartamos.
Será algo interessante?
Chico trouxe a ideia das placas de circuito integrado ocupando o lugar do dimmer e da interface digital. Pensamos em fazer disto uma instalação onde ficarão os operadores, como uma grande sala de controle, com seus circuitos visíveis. Gosto da ideia de eliminar mesa e dimmer convencional e partir para uma instalação elétrica que tenha uma conexão com o artístico também.
Penso que estou tratando o macro da luz ainda, a estrutura, e dai devo tirar elementos que me deem o micro, ou seja o que é especifico para cada cena.
Tenho a questão financeira que se impõe novamente. Temos uma primeira temporada paga e depois é por nossa conta. Isto encaminha meu projeto para que ele seja autosustentável (não do ponto de vista ambiental…kkk), não posso contar com muitos movings e leds porque depois não terei dinheiro para pagar uma locação destes equipamentos, por isso vou por em uso todas as minhas lâmpadas acumuladas ao longo dos anos.
Meu momento é mais de duvida do que de certezas.
30 de março de 2015
Hoje comecei minha busca pela sucata industrial e devo voltar ao velho Comercial Cadiriri, que tanto alimentou minhas criações anos atrás.
http://www.cadiriri.com.br
Cadiriri | Rua cadiriri 186
Mooca
(11) 2601-3164
2° a 5° 7h30 a 17h 6° 7h30 a 16h
http://sucatasindustriais.com.br http://www.fermadsucatas.com.br http://www.sosucataszl.com.br http://www.sucatasmandaqui.com.br http://www.christinoefilhos.com.br/
Christino e filhos
Rua Barão de Resende, 240 Vila Prudente
2° a 6° 8h a 17h30
(11) 2274-3103
(esse é maior e costuma trabalhar com luminarias) Rua Olimpio Portugal, 119/147
Moóca
2° a 6° 8h a 17h30
(11) 2291-5788
http://www.rochafer.com.br/ (11) 2917-5679
São Raimundo, 373 Vila Califórnia
Primeira lista de material para poder colocar algumas ribaltas para funcionar, nem todas pois a maioria esta guardada no nosso depósito.
Para as 4 ribaltas:
Tenho verba para isso?
Claro que não, trata-se de mais um investimento meu para que possa pesquisar. Se a pesquisa cientifica no Brasil é dificil, se a pesquisa artistica (diretores, pensadores, doutores) é dificil, imaginem a pesquisa em luz…
São Paulo, 31 de março de 2015
Hoje surgiu uma ideia de um teto com luminárias de fluorescentes (calhas) como das fabricas.
Teríamos 07 linhas de 16 luminárias de 2 lâmpadas fluorescentes cada com reatores duplos.
Pensamos em uma estrutura que sustenta todas estas luminarias e que estão presas a cabos de aço e tem movimento colocando as mais baixas ou em diagonal. Enfim poderiamos ter uma estrutura que teria movimento, qual? Temos diversas ideias, algumas mirabolantes, algumas mais simples. Porque e para que movimentar ?
Abaixo imagem usada como referência e parte da pesquisa de imagens de luz em fábricas.
São Paulo, 02 de abil de 2015
Conversa com Peter Pel Palbert. A ideia dele é abordar dois temas: Trabalho e Kafka. Trabalho (mutações contemporâneas).
O trabalho não requer mais a força física como antigamente, mas sua força mental. Uma outra força, mais impalpável pois é mais imaterial. Hoje exige-se a força de invenção.
Existe uma necessidade em sociabilizar, para que se trabalhe de forma coordenada com os outros. Usam seus afetos para poderem produzir coisa interessantes, novas, originais. O que chamamos de bens imateriais. Uma imagem, uma informação, uma obra.
No mundo virtual vamos em busca de um certo aconchego e ai consumimos uma serie de bens imateriais que vão moldando nossa vida, nossa subjetividade. São tutoriais que nos ensinam e ajudam a pentear o cabelo, a se vestir, dicas para viver. Consumimos hoje modos de vida, modelos de vida.
Os bens de consumo hoje são imateriais, informação é um bem, tudo isso compõe nossa objetividade.
O que mais se cobra de um trabalhador hoje é sua riqueza imaterial, sua inteligência, sua subjetividade, sua “alma”, antes era o corpo, hoje pouco importa se você quer ou não aquilo, se você esta feliz ou não. Hoje em dia pede-se a sua criatividade.
Como esta produção de bens imateriais afetam a alma de quem consome e de quem produz, as vezes são os mesmos.
Um gesto como por o boné para traz, feito por alguém em algum momento, acaba virando uma invenção que contamina e contagia a muita gente. Esta é uma riqueza muito grande, hoje em dia, a força da invenção.
O que nos pedem hoje é tudo o que temos de mais intimo, de mais rico. Antes eu trabalhava mecanicamente e internamente não interessava a ninguém o que eu sentia, hoje é pedido a você que ponha tudo para fora e que use sua força de invenção a serviço.
O capitalismo se reinventou completamente e cooptou tudo o que era uma reinvindicação dos trabalhadores. Algo que era anárquico, coletivo, espontâneo. Tudo
o que era reivindicado virou discurso dos dirigentes de empresas.
A discussão era para quem iria a mais valia, quem detinha os meios de produção e não pelo trabalho em si, pois este sim continua sendo algo importante.
Em Awschiwitz lia-se: O TRABALHO LIBERTA O HOMEM. Liberta ou escraviza- o?
Hoje a fabrica migrou para dentro de nosso cérebro.
O trabalho como força de invenção. O homem comum lança tendências e olheiros observam isto, transformam em produto e vendem a esta multidão. Ou seja eles roubam a invenção desta multidão que por algum motivo da mais valor a marca do que a sua própria invenção.Isto é muito comum de observar em tendências de moda que surgem no meio das pessoas comuns e sãotransformadas em tendências via televisão, estilistas…
Kafka
Criava e analisava várias engrenagens em suas obras. A maquina jurídica (O processo). É como se ele pegasse a maquina e a desparafusasse. Ele desestabiliza, corrói através de sua escrita a solidez destas construções maquinas. Tem algo de liberador nisso.
Um autor da angustia, aquele que mostra o homem solitário, oprimido totalmente impotente das forças familiares, politicas.
Gattari tentou mostrar que Kafka é o contrário disso, com um humor inusitado que mostra o descarrilamento do mundo.
Ele infla a figura do pai para olhar para ela, para explodi-la. Para ver todas as dimensões deste pai.
Resumo da conversa com Peter, nem tudo captei, nem tudo anotei, nem tudo compreendi.
Peter se foi e deixou no ar esta figura do Kafka como alguém que descarrila a maquina.
Ficamos para continuar um pouco nossa conversa e percebemos algumas conexões entre os personagens e as situações descritas pela conversa.
São Paulo, 06 de abril de 2015
Leitura do texto com o autor presente, Alexandre Dal Farra. Discussão sobre os cortes. Leitura deu 1 hora, ainda muito tempo. Precisamos cortar mais. A conversa girou em torno do estilo, da questão narrativa x dialógica, do tom da interpretação que deve ser dada pelos atores. Para Dal Farra não existe uma gênese, tudo o que deve ser dito esta dito ali, os personagens falam o que tem que ser falado.
Duvidas de algumas passagens, de alguns pontos de vista. Pro Dal Farra, o pai ( feito pelo Petrin) que vira avô é muito ausente mesmo, ele não esta presente. É assim que ele ve este pai, não como o pai do Carta ao Pai, um cara poderoso, forte, onipresente. Não, aqui ele é distante, não tem nada para ensinar.
Entre 06 e 21 de abril de 2015
Período intenso e com vários desvios. Avancei em meu projeto. Fiz a pesquisa dos lugares de sucata industrial e fui visita-los. Separei material, depois de uns dias comparamos e trouxemos para cá (imagem1). Preciso estar em contato com os atores, com o texto, com o espaço e vendo meu material. As conexões, para mim, se fazem intuitivamente e deste convívio. Dai surgiu a ideia de um dia eu distribuir tudo no chão como se estivesse no teto. Propus a Tchaça, Danielle e Naiara que fizessem seus planos. Desenhamos todos e da junção fizemos um desenho e pedi a Naiara que pusesse no CAD.
Imagem 1:
Luminárias industriais no desenho de luz
final do espetáculo.
Isto me deu um projeto concreto, ou seja tenho um plano, ele esta desenhado e com ele em mãos passarei a observar a cena e pensar em como utilizá-lo. Diferente de outros processos, mas muito parecido com o do Kastelo onde meu desenho avançou antes da cena, aqui novamente tenho um projeto e não tenho cena. Coisas de Kafka? Não sei, mas que trata-se de uma coincidência não tenho duvidas. A idéia da instalação de uma fábrica esta ali, os equipamentos ordenados em uma simetria, repetição, ordem, um sistema, luminárias de ambiente fabril, lâmpadas fluorescentes em calhas. Bora tratar de dar sentido a tudo isso.
Em compensação vivemos uma crise no elenco com a saída do Beto Áudio e da Miriam Rinaldi. Quase 18 anos de parceria artística foi-se. Vivíamos uma crise desde BR3 com a questão do papel dos atores no Vertigem. A chegada do texto sempre foi um momento de crise. Momento extremamente difícil, pois, Beto é um excelente ator e faria muito bem este personagem. Junto e em seguida saiu Miriam Rinaldi, atriz importante, talentosa, inteligente, mas com mais convites simultâneos ao nosso projeto o que a impedia de estar presente como o trabalho exigiria.
Paramos por uma semana e meia para vivenciarmos e sairmos da crise. Joelson Medeiros foi chamado e não pode aceitar o convite, Sergio Siviero entrou, aceitou, pediu uns dias para acertar sua vida e saiu. Kiko Marques se mostrou complicado de datas e por fim Sergio Pardal aceitou. Tinhamos ainda outros nomes mas o sim de Pardal nos tranquilizou, alguém que conhecemos, com quem já trabalhamos (BR3, Ultima Palavra, Kastelo). Fechamos o elenco com Paula Klein que aceitou estar no lugar da Miriam Rinaldi. Fechamos com Kenia Dias corpo e vamos fechar com Monica Montenegro voz. Acabamos fechando com Ariane pois nem Monica nem Isabel Setti puderam estar conosco devido a compromissos já assumidos.
Superamos todas as crises e estamos prontos ara seguir. A crise se instalou em uma semana e se foi. A folga dada aos atores nos permitiu limpar a casa, ajeitar tudo e retomar com os atores.
Aproveitei este tempo para dar manutenção nos equipamentos, incrível como dei manutenção nos equipamentos por diversas vezes. Equipamentos muito velhos x aprendizes ainda dando manutenção = demora e refação do trabalho. É hora de contabilizar o que tenho e tratar de aprofundar meu desenho.
Estou pronto para começar a desenhar cena a cena. Tenho uma estrutura.
São Paulo, 22 de abril de 2015
Um pouco sobre a criação. Me perdoem algumas repetições do que já foi dito, mas acabo repetindo para mim mesmo, um pouco para firmar uma ideia, um pouco para me convencer destas ideias, um pouco por que elas vão surgindo e ressurgindo com mais força e mais clareza.
A ideia é reproduzir uma luz industrial.
Áreas de trabalho, como galpões, com linha de produção ou não. Existe uma necessidade de uma organização, simetria, ordem, luz homogênea, intensa, fria, com quentes misturados. Até os movings obedecem este padrão e estão distribuídos absolutamente simétricos.
O que importa aqui é o signo da luz no trabalho e de sua organização, clareza, um sistema. Num contraponto este espaço deve adquirir outros significados e leituras, em alguns momentos mais abstrata e em alguns realistas e até hiper-realista.
Nesta ideia de transformar este lugar e propiciar um “ descobrimento” lento e gradual, tenho a ideia do movimento nas luminárias de fluorescentes, as calhas.
A entrada do publico talvez se de com elas todas muito baixas. impedindo assim que o publico consiga ver/senir/perceber todo o espaço.
Busco a sensação é de que as coisas irão acontecer ali.
O teto de flúor pode subir no escuro ou em cena, como quiser a direção. A decidir. Penso que por ser inicio deveríamos subir tudo no escuro (?).
Os movings terão um papel de criar abstrações neste espaço realista. Usando os recursos do movimento, das animações e projeções de gobos (sempre desfocados para virarem texturas), de sua luz intensa e fria, dialogando assim com a temperatura de cor destes ambientes. A robótica entra no papel da tecnologia presente na fábrica com seus robôs. Os aparelhos podem estar colocados nos quatro cantos (a cenografia cria quatro nichos para colocar os movings). Estes movings podem dar a ideia de câmeras de segurança, vigilância.
Os movings são fundamentais para criar um atrito de tecnologias, pois pretendo seguir minha pesquisa das traquitanas mecânicas e manuais, com o movimento das calhas, shutter nos CDMR dentro dos nichos.
Portas e Janelas
1- Refletores com PAR 30 CDMR 70 wts. 2- traquitana de shutter ( dimmer mecânico)
Circulação no back stage
fita LED.
Fachada do cenário:
Fita Led nos pisos para iluminar fechamento do espaço, paredes (incluindo o nível do publico)
Movings:
Crio um quadrante no espaço e no centro de cada um posiciono 01 Varilite 3.5 ou um Clay Paky alpha 800 profile.
Outra ideia (melhor) e usar as quatro pontas do quadrante e a cenografia criar nichos para eu acomodar estes aparelhos (desenhar).
Fixo os movings na própria estrutura de cenário.
Temos que estudar o corte deste nicho para eu ter angulo total.
Calhas de fluor
Calhas com uma lâmpada/ ou duas (?).
Criar uma maquinaria para movimentar as calhas.
1- eleger algumas para compor uma cena, que se movimentem separadamente. 2- subir todas ao mesmo tempo.
Cada calha com uma lâmpada.
Luminárias na mesa
18 luminárias com lâmpadas dicroicas de 50wts ( fazer canudo de chapa de off sete ) não usar mais que 2 minutos aceso a full
Vai ter que ser LED, 01 LED de 15 wts dimerizavel
Plafonds.
Luminárias industrias ( 06 plafon) com lâmpadas CDMR 70 wts distribuídas pelo espaço.
Luminárias industriais
Gotas médias, grandes, pequenas, coloridas com lâmpadas HPL ( 575 wts )
Luminária industrial ( com cano ) com lâmpada CDMR 70 wts para entrada do publico.
Ponte móvel (pórtico roldante)
Usar tubo led nos lados para iluminar a ponte andando. Com bateria e on/off.
Revelar galpão
08 vapores de sódio de 400 wts colocado atraz do cenário para dar a silhueta e revelar o galpão.
Ribaltas
1- usar para piso superior/passarela 2- Ribaltas de 12 lâmpadas Pr 38
Ribaltas de 06 lâmpadas Par 38
Nichos com teto
Tres luminárias com Par 38 ou dicroicas embutidas no teto
Área externa
Fora da sala Luz do vídeo e do próprio SESC. Pedir sistema ON/OFF DMX
AVOLITE
Dimmers
Cortar o espaço na linha do pórtico com seis canos de 2 polegadas, apoiados no cenário e com cabos que aliviem seu peso na estrutura do próprio galpão.
São Paulo 27 de abril de 2015
Roteiro Cena a cena
1_
Pai e Bruno Espaço: Casa do Pai Sinopse:
Pai conversa com Bruno sobre dividas. Pai vai embora pags: 1/5
2_
Bruno e Paula Espaço: Casa do Pai Sinopse:
Fala do trabalho do pai de empacotador do qual o substitui, porém é mandado embora.
Recebe uma quantia pela demissão, aconselha Bruno que arrume um emprego que exija menos das mãos. Dois anos relacionando-se com Paula.
pags: 5/10
3_
Bruno, Paula e Julio ( homem de verdade ) Espaço: Casa do Pai
Sinopse:
Julio mostra que é um homem de verdade Pags:10/11
4_
Bruno
Espaço: Casa do Pai Sinopse:
Fala sobre ordens. Comenta sbre a realização de trabalhos informais. Uma mulher gravida
pags:11/12
5_
Bruno e Pai
Espaço: Casa, Sala de espera do Hospital Sinopse:
O filho de Bruno nasce. O pai volta e encontra com Bruno no Hospital. O pai vai embora.
Pags: 12/15
6_
Bruno e Mulher 1 Espaço: Casa do Pai Sinopse:
Fala da relação com a mulher e confessa como se sente mal ao vê-la amamentar. O Pai volta e vai morar com Bruno
pags:15/18
7_
Bruno e mulher Espaço: Casa Sinopse:
Narrativa da mulher acerca da gravidez. O casal discute. Bruno vai embora. pags:18/20
8_
Bruno
Espaço: Quarto de pensão Sinopse:
Garoto na janela. Vai embora. Arruma um quarto de pensão para morar com o filho. A vizinha passa a cuidar de seu filho para que possa trabalhar. Passaram dois anos.
Decidi não ir trabalhar para ficar em um bar pags:20/21
9_
Bruno e Julia
Espaço: Casa da Julia, café na padaria, caminha pela cidade. Sinopse:
Conhece Julia em um bar. Fazem sexo. Narrativa de Julia. Julia engravida e Bruno vai embora. Dois anos de relacionamento com Julia.
pags: 21/26
10_
Bruno e Julia
Espaço: Casa da Julia no interior Sinopse:
Depois de dois anos Bruno procura Julia, ela corta o vinculo pags:26/30
11_
Bruno e Filho
Espaço: Quarto de pensão, aeroporto e rua Sinopse:
Bruno lembra-se de Julia. Volta a trabalhar, diz que seu trabalho melhorou em decorrência de um curso de inglês. Trabalha no aeroporto. Descobre que o filho esta usando drogas. O filho fala sobre os skatistas e paraça. Passa a vender drogas. pags:30/32
12_
Bruno e Mulher 1 Espaço: Casa do Pai Sinopse:
Fala que seu trabalho é não devolver xingamentos, chamar o superior da seção. Está nesse emprego há dois anos, por vezes é chamado de lerdo por não conferir
documentos, porém considera o trabalho como distração. Pontua a sua familiaridade com tarefas. É demitido por estar desatento. Trabalha alguns meses como garçom, mas não era bom para o lugar. Continua arrumando bicos. Ainda lembra de Julia, na tentativa de esquecê-la procura a Mulher 1. Volta a dinâmica do cotidiano de acordar cedo, trabalhar e dormir.. Ve em uma revista a importância da família e leva seu filho até a casa do Pai.
pags: 33/34
13_
Bruno, Mulher 1, Pai e Filho Espaço: Casa do Pai e quarto. Sinopse:
Mulher 1 esta doente e recentemente pairu mais um filho. Mulher 1 e Pai convence Bruno que ele é o pai da criança. Bruno prende a Mulher 1 e o Pai no quarto
pags: 34/36
14_
Bruno, Filho e Mãe
Espaço: Casa do Pai e Prisão Sinopse:
A mãe de Bruno aparece e tenta convencê-lo a ir embora e não assumir a paternidade, diz ao filho que possui um dinheiro guardado de sua aposentadoria para que ele faça o que quiser. O filho manda a vó embora. O filho vai embora dizendo que vai ser preso. Fala dos seus trabalhos. A mulher 1 e o Pai ainda estão no quarto. Está vivendo na casa do Pai por muito tempo e acredita que não vai embora tão cedo, por, por não conseguir emprego fixo.
Pags: 36/45
15_
Bruno e Filho Espaço: Casa do Pai Sinopse:
O filho volta da prisão. O filho faz com que Bruno tire os corpos do quarto. O filho mata o pai.
pags: 45/50
FIM
Além do roteiro fiz também um cronograma de trabalho para nós da luz. Segue:
Maio
Semana 1
Ribaltas;
Luminárias industriais com CDMR
Semana 2
Luminárias de mesa Calhas de fluor
Semana 3
Gotas Fitas Led
Semana 4
Vapores de 400 wts
Junho
Semana 1
Definir Projeto de luz
Semana 2
Sistema ON/OFF + Interface + Computador + software
Claro que parte deu certo e parte caiu no esquecimento ou se transformou em outras ações mais importantes.
Hoje nos reunimos para discutir questões de produção, Lili, Gabi e eu, como sempre as segundas a partir das 16.00 hs. O tema foi as indefinições da temporada Sesc, a proxima temporada, espaço maior de ensaio para podermos ter a dimensão dos espaço e Lili poder trabalhar a encenação.
Depois na sala de ensaio tratamos de por as coisas para funcionar e fizemos varias marcações no chão para simular o espaço.
Fechei os panos e deixei a sala preta.
Silêncio e atmosfera mais intimista tem ajudado os atores.
Impressionante como uma simples ação de eliminar o ruido, acender uma luz mais atmosferica e com a possibilidade de dmerizar, escurecer as paredes com as cortinas pretas mudou a qualidade das cenas, o silêncio na sala e a concentração de todos.
Coloquei uma placa na porta para não sermos interrompidos, fechei a sala e só a abria quando paravamos. Ninguem mais entrava e saia durante as cenas.
Um pouquinho de organização, silêncio e concentração em respeito aos atores.
Creio que este momento de descoberta de personagens é extremamente importante e requer intimidade, silêncio e pouquissimas pessoas na sala. Penso que não deveriamos ter aberto tão cedo para os estagiários. No BR3 cometemos o mesmo erro. Muita gente desde cedo. Já no Bom Retiro os estagiários entraram depois do trabalho de dramaturgia e no começo do levantamento do texto. Creio ser tão rico quanto e faz muita diferença para os interpretes.
São Paulo 12 de maio de 2015.
Quase um mês depois, muita coisa aconteceu. Tivemos que achar um lugar para sair da sede.
Foi uma batalha pois esta ideia não foi aceita por todos muito bem. Não tinhamos no nosso planejamento financeiro os gastos para esta ação. Tivemos que ir a Secretaria de Cultura pedir favores, lutamos contra a burocracia e a má vontade e por fim diretamente na Pça das Artes nos liberaram o espaço. Trata-se do local onde fizemos Orfeu e Euridice, o prédio anexo da Pça das Artes.
Entraremos lá no dia 18 de maio.
Tratamos de correr atrás de uma estrutura não tão cara mas que possa simular o nosso espaço. Usaremos andaime fachadeiro. Paralelo a isso eu tenho que ter uma minima estrutura de luz, levarei tudo o que tenho de lâmpadas para o local e ainda vou pedir o apoio do Ronaldo Passarelli dono da RP lighting que vem me apoiando desde 2006. Teremos que alugar um gerador. No sistema de audio contaremos com a ajuda do Teatro de Narradores e de um amigo do Kako Guirado que nos emprestara uma mesa de som.
Usaremos nossos projetores de vídeo. Montaremos esta estrutura e inciaremos a segunda e ultima etapa antes do Sesc Pompeia.
O período na sede serviu, para luz, para eu poder me organizar, pensar, decidir, pesquisar, comparar, iniciar o restauro, e produzir ideias, conceitos.
Neste período firmei um projeto.
Diferente de alguns processos, percebo como os processos foram diferentes entre si ao longo destes 20 e poucos anos. Agora no Karta tudo veio antes. Durante o periodo de corte do texto, primeiro mes, fui definindo meu projeto. O conceito do trabalho, como parte importante no conceito do espetáculo, deu um norte para mim e fui buscar nas luminárias de fábrica meus aparatos luminosos, meus refletores. De novo a fabrica me deu um caminho para pensar minha instalação.
Simetria, ordem, repetição, padrão, tipos de lâmpadas deste ambiente (lampadas de descarga, mistura de temperaturas de cor; sódio, metálico, halogena, fluorescente). Percebo que parti do conceito do espetáculo, para a tecnologia a ser empregada para chegar na questão estética. Ainda não sei como resolver cada cena, mas tenho um projeto, desenhado, tenho um equipamento escolhido.
Meu trabalho é fazer isto “caber” no espetáculo. Conceitualmente estou absolutamente integrado. Não penso em refletores, não vejo lugar para eles. Ah sim, existem os molefay bibrut e as PAR 38. Mas neste momento do processo elas começam a me incomodar e penso que preciso ter mais vapor sódio, mais vapor metálico. A operação e o uso destes equipamentos industriais vai contra o paradigma da luz de teatro que se baseia em fade in, fade out. Passagens por vezes lentas, fumaça desenhando. Não aqui não cabe show de luzes, me perdoem a critica, vou em busca da radicalidade do conceito.
Neste periodo percebemos que o texto do Karta ao Pai trata de uma relação familiar e tudo levaria a crer que os espaços propostos no texto; casa, quarto, sala, bar, hospital, paraça não cabem na fabrica, que a questão do trabalho proposta pela Lili estava “forçada”.
Este periodo de ensaio, o segundo mês onde começamos a levantar as cenas, serviu para percebermos que a entrada de ferramentas de trabalho, a questão do espaço colocado pela cenógrafa Marisa Bentivegna, minhas luminárias adquiridas nas sucatas industriais, isto gera um atrito, um deslocamento, um estranhamento que é muito forte e interessante. Um bebe passa a ser uma bateria de carro, num carinho feito no personagem é utilizada uma furadeira. Tem nos parecido que o conceito do trabalho vem por ai e cria este atrito na imagem. Digamos que criamos camadas com estes elementos que nos parecem muito interessantes.
Este Segundo mês foi muito cansativo, as vezes desestimulante e por fim muito produtivo. O ultimo corrido que fizemos na sede, no dia 15.05, a quase exatos dois meses de trabalho, mostrou uma evolução, tanto na cena com atores com seus textos decorados, personagens com desenhos surgindo, quanto com as atmosferas que conseguimos criar na luz e na musica.
Tenho pensado e pensei, neste dia conversando com Chico Turbiani, uma especie de dramaturg para a luz, pois ele vem as sextas ver os ensaios e ai discutimos, com Danielle Meirelles (assistente operadora), a Dani, com Felipe Lucas (chefe técnico), o Tchaça, Naiara Abraão (responsavel pelos desenhos), Alex, o Piu (auxiliar técnico) e Camille Laurent , a gringa (estágio em todas as areas). Todos nós conversamos um pouco sobre como a luz iria trabalhar. O que tenho dito e pensado é que temos que construir espaços dentro do nosso cenário. O espaço proposto pela Marisa é muito imponente e enorme, com seus planos, paredes, janelas. Creio que tenho que trabalhar na mesma lógica que venho trabalhando estes anos. Apesar do publico ficar sentado o tempo todo, desta vez, meu trabalho deve consistir em reveler o espaço de diferentes formas e possibilidades. Ora abrindo a cena, ora fechando, não deixando tudo a mostra o tempo todo. Penso também que devo criar uma trajetória para Bruno, personagem principal feito pelo Pardal. Temos duas atrizes (Mawusi e Paula) que fazem duas mulheres diferentes cada uma. Aqui também conversando com Erico Theobaldo (compositor) pensamos que deveriamos criar algum codigo na imagem e no som, para ajudar na leitura destas diferentes mulheres, o mesmo se dando com o Pai, feito pelo Petrin e com o filho (Rafael). No Bom Retiro criei uma qualidade estética para cada personagem, não sei se é isto exatamente ou o que, mas estou em busca de qual deve ser o tratamento para cada uma destas figuras.
São Paulo, 18 de maio de 2015 Paraça das Artes.
Entramos na Paraça das Artes e fizemos uma operação de Guerra, muito distante dos orçamentos dos EUA. Cedinho no Vertigem desmontamos tudo e carregamos nossos cases com tudo o que temos de cabos, lâmpadas, Leds etc. Adeus sede, é hora de irmos pro espaço, este é um dos momentos que mais gosto, encrenca a vista, problemas a resolver, um espaço a entender, dominar, organizar.
Na Praça demos uma super limpada, organizamos um material que estava guardado lá (a estrutura do cenário do Orfeu e Euridice, feito em 2012, estava lá. Incrivel como um espaço daqueles não é ocupado, incapacidade de gerenciamento do estado de seus espaços é impressionante), iniciamos esta limpeza durante a semana anterior a montagem dos andaimes para simular nossa estrutura (aqui na Praça o espaço vai ter uma diferença muito pequena do real, em altura, largura e comprimento). Agora é tratar de iluminar isto tudo. Instalei meus CDMR de 70 w, meus vapores de 400 w e com isso iniciei. Logo percebi que faltavam mais recursos e instalei mais 12 PAR 64 para poder simular um desenho e estudar um pouco. Percebi que tenho que avançar aqui dentro na Paraça e aproveitar para estudar a operação de luz, entender a dinamica das cenas e propor algumas atmosferas. Minha montagem não parou e sinto que estou enlouquecendo a Dani e o Tchaça. Como costumo dizer: “ Vertigem, onde os fracos não tem vez…”
Primeiro ensaio nos deixou absolutamente felizes pois todos os atores encamparam o espaço sem nos dar a menor dor de cabeça, nenhuma reclamação, pela altura, pelas dificuldades de desolcamento. A mudança da sala de ensaio para cá nos deu uma dimensão do espaço que não tinhamos, tudo adquiriu outro significado, o que era grande demais nos gestos e tons de fala do Petrin nos pareceu adequado aqui. Muito interessante como tudo se encaixou, rapido, fácil e de uma maneira organica.
Estavamos a espera deste lugar.
Tenho percebido que a precariedade que acabamos “institucionalizando” em nosso trabalho me causa algus problemas. A questão que discuto é a participação dos estagiários de uma forma muito ativa e por vezes ocupando o papel de um técnico. Revisei parte do material que uso nos ensaios, e montei a Praça com Dani, Tchaça, Piu, Camille e Naiara (em menor grau). De tempos em tempos algo não funciona, algo que funcionava para de funcionar. Alguns comandos que dou, rápidos e com duas ou tres indicações são dificeis de assimilar. De um lado os estagiários são fundamentais pois formam uma equipe de trabalho, criam uma rotina de ações e me injetam um animo muito grande, não sei se conseguiria ter a disposição que tenho, mas dou muitas cabeçadas tecnicamente. Sei que isto é o menor dos problemas e sei que isto faz parte de um procedimento que jamais vou abandoner. O frescor daqueles que querem aprender, a disposição e o engajamento é total. Fico impressionado como eles assumiram este projeto em suas vidas. Faço de tudo para dar a eles mais conforto e vou conseguindo diárias e ajuda de custo para diminuir o prejuizo daqueles que estão todos os dias comigo.
Estou empenhado em formar Dani, como assistente e operadora de mesa, e Tchaça, como técnico de montagem.
Tenho tido a rotina de observar as cenas e discutir com eles possibilidades de ilumina- las. Ainda não tenho ideia do que vou fazer e como sempre acho tudo uma bobagem, algo muito comum. Não sei se vou descobrir algo de novo aqui, qual sera minha contribuição para a luz com este projeto, o que de minha trajetória estará presente neste projeto, o quanto aprofundo e sigo em frente?
Vejo aqui muito forte a presença da pesquisa dos materiais e tento ainda discutir a presença dos mecanismos, digitais com os mecanicos, minhas adoradas traquitanas, aqui pensadas em maquinárias que deem movimento as luminárias. Um uso de tecnologias distantes umas das outras, a precaria, antiga, manual e a moderna, dos leds, moving lights, a mesa Grand MA com sua pre-visualização. Continuo com meu processo de construção artesanal, recuperando peças para um uso distinto da qual ela foi criada, diminui bastante os equipamentos convencionais e tento estar integrado ao conceito da encenação e do espaço.
Incrível, mas por mais que fale em aulas da importância do trabalho nos nortear e não nos deixarmos levar pela vaidade, pelo ego as vezes me sinto em busca de uma ideia genial que vá impressionar as pessoas.
São Paulo, dia 22 de maio de 2015
Fizemos um primeiro corrido de metade da peça e eu correndo atraz com o que tenho nas mãos. Fico com duas pessoa na varanda (Naiara e Tchaça) e criamos um roteiro para acender e apagar as luminárias de vapor de sódio e as CDMR. Começo a experimentar um pouco. Diferentes temperaturas, mas nem sei se serão estas. Mas estranhamente meu processo é um pouco esse, uso um material que nem sempre vai para cena, mas vou criando um roteiro, tento criar as atmosferas que a cena pede e de repente dou um salto pro projeto final. Tudo isto serve para perceber e entender o que estou iluminando, o que falta para enriquecer mais o desenho, para firmar um roteiro de operação, para que os tecnicos se apropriem do espetáculo, para que tudo fique organico.
Tó veio assistir e fez vários questionamentos em relação ao choque que ele sente entre a encenação e o texto. A partir das conversas com ele e de nossas reflexes decidimos, algo que já estava apontado no processo, decidimos tirar a questão “trabalho” como conceito norteador da encenação de nossa frente e a fabrica como espaço. Já estávamos trabalhando com a ideia de empilhamento, só que de sucatas industriais e agora a ideia mudou para empilhamento de objetos relacionados a casa. Tratamos do espaço como um deposito onde se empilham coisas, a vida privada se misturando com o trabalho e objetos destes dois universos misturados. Empilhamento, sucateamento, materiais que não servem mais para o que foram fabricados e que estão a espera de uma transformação.
E eu que comprei tudo pensando na fabrica e venho trabalhando com um desenho que é de fabrica, e agora José? Para onde devo ir???
São Paulo, 27 de maio de 2015
Recebi este email do Chico Turbiani após ter visto o corrido do dia 15/16.
Gui,
Seguem minhas impressões do passadão, já que não tivemos tempo de conversar. Algumas são bobas, outras mais precisas, mas coloco tudo aqui em um bolo só
Já está claro que o moving (moving Light) vai ser seu salvador, não só pela possibilidade de movimento e multiplas posições, mas pela variedade de cores, gobos, tempos, etc. Contudo, da forma como está a encenação (não sei se isso muda), fica bem claro que o Bruno (personagem do Pardal) é o centro de tudo. Fica aquela imagem na minha cabeça dele no centro, iluminado pelos 4 movings ou ele andando e o moving seguindo ele. São imagens bobas e talvez obvias, mas é a primeira coisa que vem na minha cabeça. Mas se fosse usar, seriam efeitos que eu guardaria só para o Bruno, não para os outros.
A impressão que fiquei quando saí é de uma grande confusão a respeito do espaço. Parecia que a luz tinha uma leitura, a cenografia outra, a encenação outra e a interpretação outra. Como se para cada um aquele espaço tivesse um significado e uma leitura diferente. O espaço virou um NÃO lugar, um cenário que sugere um ambiente, mas que não é. Me parece que para mim isso é algo diferente dos outros trabalhos que conheço do Vertigem. Nos outros, o espaço é algo, ponto. (hospital, prisão, banco, bom retiro, passagem pública). No site specific o espaço ganha um poder de articulação de diversas questões que vocês inserem nos seus trabalhos.
Quase como se o espaço articulasse e fosse a chave para a compreensão da obra. Aqui o espaço (pelo menos ainda) me parece não ter um significado tão fechado. Isso não é um problema em si, mas ajuda a deixar as coisas ainda mais indecisas, turvas e abstratas. Abre margem para que a encenação não se decida enquanto que questões estão sendo trabalhadas. Me parece que existe uma relação quase que direta entre compreensão do espaço e compreensão da leitura critica que a Lili quer dar para o trabalho, a confusão de um gera confusão no outro, e vice versa. Aí me parece que, diferente dos outros trabalhos, onde o significado espacial já está pré determinado, aqui vocês tem de determinar, criar o significado que vocês querem (que que é? Uma fabrica? Do que? Um lixão? Uma oficina de reciclagem? Qual o TRABALHO que se realiza lá dentro? ou é uma casa?)
Que mais? Gosto das tubulares mais frias, que estavam no Petrin, do que as mais quentes, sobre o pardal, pelo menos para o hospital.
Sobre o que estava falando da diferença da casa para os demais espaços (hospital, bar, etc.) Se a casa é o espaço de trabalho e o espaço de trabalho é a casa, me parece que na luz essas duas camadas podem se mesclar (o que você já faz utilizando o vapor na cena da cozinha e do quarto). Já nos outros espaços eu acho que TEM sim que criar a luz desses espaços, pois é outro espaço, uma “saída” dessa casa/ trabalho.
Isso é minha interpretação, e eu sei que ela difere da leitura de que é sempre a fabrica, e que ela se modifica com o olhar de quem trabalha naquele espaço (no bar a garçonete, por exemplo, como ela que trabalha lá, vemos tudo sob a perspectiva dela). Mas para mim isso me parece confuso, o olhar do Bruno sobre o mundo me parece forte demais para ser “dividido” com outros personagens.
Isso é o que ficou mais forte. E na escrita deve estar um pouco confuso. Depois conversamos mais.
abs, Chico.
Estamos sim em um momento confuso. Abandonamos a fabrica, abandonamos o trabalho e estamos trazendo a casa para dentro do espaço, o empilhamento. A estrutura do espaço é sim de uma antiga fábrica, os materiais do fechamento trazem isso, os meus equipamentos trazem isso, mas este ambiente esta repleto de sofas, cadeiras, mesas, geladeiras, televisores, micro ondas, ferros de passar, liquidificadores, roupas, livros, berços etc. Tudo empilhado. Trata-se de uma fabrica abandonada, que não produz mais nada ? O privado invadiu o publico? Será? Ainda não entendemos o que é este lugar e como usá-lo. Ficamos até aqui acreditando que iríamos dar conta do conceito da fabrica e do trabalho ma peça e isto veio caindo e caiu de vez com as observações do Tó. Agora é trabalhar para colocar algo que os parece, neste momento, muito mais próximo do texto.
De qualquer maneira tenho conversado muito com os estagiários, com os outros criadores e estou decidido a não tirar nada do que estou usando.
Decisões:
Meu teto de fluorescentes começara baixo, comprimindo este espaço e não deixando claro suas dimensões. Depois ele sobe e quando desce novamente desce “capenga”.
Lili esta estabelecendo que a casa é no espaço de baixo, no plano médio seria tudo o que é externo a casa, e no terceiro plano a casa da Julia no interior. Isto cria uma clareza no espaço.
De fato Chico tem razão o espaço estava até o corrido, um pouco confuso. Mas creio que as mudanças vão deixar tudo mais claro. De fato não estamos trabalhando num site specific.
Na segunda levo meus materiais ao Gereba (cenotecnico) para preparar tudo.
Estamos em meio a crise, nada paralisante, mas é o momento de aprofundarmos nosso olhar sobre a cena e radicalizarmos a relação encenação x texto.
São Paulo, 06 de junho de 2015
Crise veio, crise foi.
Demos uma virada na situação FABRICA, TRABALHO e Marisa veio com moveis. Muitos sofas, mesas, utensilios domesticos, tudo relacionado a casa. Muito interessante isto nos processos. Num fim de semana a coisa toda mudou e quando os atores retornaram o espaço de fabrica deu lugar a um deposito onde se empilham objetos de casa, de familias que se desestruturaram, talvez. Moveis com memoria de familias que os utilizaram. Uma virada conceitual que nos parece ter feito todo o sentido. Aproximou texto, espaço e encenação. Começamos a ensaiar nesta nova configuração e os atores passaram a usar o espaço todo o que me apavorou pois qualquer cena ocupava toda a area de encenação. Uma loucura pensar que terei que abrir toda a luz o tempo todo. Conversas aqui e ali e chegamos a conclusão que temos que definir melhor cada lugar, confinar mais a cena. Creio que teremos que amarra alguns atores.
Sala, quarto cozinha, aos poucos conseguimos melhorar isto e as coisas parecem mais definidas.
Jody De Neef tecnico belga com quem trabalhei em Bruxelas ano retrasado chegou e se incorporou ao trabalho não sem uma crise inicial de “o que estou fazendo aqui em meio a este caos, a esta precariedade?” Mesa analogica, PAR 64 na varanda operada por dois outros estagiários, uma luz que você levanta o canal mas depende de um outro para posiciona-la na cena.
Uma loucura que demorou um bom tempo para dar certo. Ficava sentado vendo a cena com minha lantern na mão, acendendo-a no modo strobo para chamar a atenção dos operadores na varanda. Assim comandava o que deveria ser direcionado, o que deveria ser apagado. Aos poucos Tchaça foi tomando pé da situação e roteirizando o uso de tudo o que estava lá em cima. Nos ultimos ensaios era bom ver tudo dando certo.
Deixei Jody experimentar diversas cores, até para ver se ele me trazia algo que eu não estava acostumado. Deixei virem os corretivos europeus, mas ele me trouxe variados tons de azul, de rosa e aos poucos fui fechando em duas cores, Lee 652 e Rosco 116.
São Paulo, 15 de junho de 2015
Inventamos um “sistema” que consiste em duplas de PAR 64 uma com L652 e outra com R116. Tchaça, Naiara e Piu se colocam na varanda onde estão posicionados os refletores e os manipulam seguindo os atores. Isto foi sendo descoberto aos poucos. Primeiro eles eram fixos e depois pela movimentação dos atores senti a necessidade de segui-los, aos poucos fomos aperfeiçoando isto e definindo:
Os pais: ora Petrin e ora Pardal seriam L652, a cor master e os filhos: ora Pardal, ora Rafael seriam R116, assim como as mulheres. No final ao matar o pai Rafa assume a cor do pai. Criamos assim uma hereditariedade no uso da cor e partimos para o 652 que tem verde em sua composição como a cor master, ela é a predominante.
Saimos totalmente da cor fria que iria predominar na cena, quando ainda trabalhavamos na perspecitiva da fabrica e fomos para uma unica cor e sua derivação. Estavamos assim abolindo o branco.
Na peça a ideia é que sejam as duas unicas cores. Isto foi surgindo graças ao uso do sódio, a trajetória do Vertigem na cidade e meu fascinio pela luz urbana e ao calor que esta luz produz nos atores e na cena, a artificiliadidade que ela traz, criando assim um estranhamento, algo que saia do campo do realismo. Fiquei um tempo experimentando as duas juntas e pude perceber a sombra verde e o ator branco, pois a mistura das duas me dava um branco, meio sujo. Este espectro/aura que corpo do ator, nas sombras me pareceu muito interessante e me pareceu dialogar com o universo Kafkiano, pelo menos com minha leitura deste universe. O contraste pela cor e não pela luz e ausencia de luz.
Até aqui tudo bem, mas vieram questões de producão dificeis neste periodo. Toda a negociação e a incerteza com o SESC. Demoramos uma eternidade para fecharmos nosso contrato, o que nos deixou, num dado momento, em duvida de que tudo daria certo. Fomos fechar tudo no meio de junho. Temporada curta, dinheiro curto, montagem curta e pouquissimo tempo de ensaio com tudo pronto. Isto nos fez ver que a estratégia de termos montado uma estrutura anterior ao SESC foi a mais acertada. Tivemos uma mudança de conceito na encenação o que afetou a todas as areas, mudamos o espaço, os atores puderam ensaiar e firmar suas trajetórias saindo de cena e surgindo em lugares onde aconteceriam as novas cenas, pudemos entender o tempo desta movimentação e eu pude entender o espaço; o que reveler, quando reveler, como revelar.
Mudei totalmente minha concepção inicial. Descobri as cores que vieram a fazer parte da cena. Descobri o que fazer com os movings, a necessidade de seguir os atores em determinados momentos. A necessidade de dar um tratamento para os momentos de introspecção (imagem 2) e da ação, do dialogo. O que fazer com minhas luminárias no teto e como usá-las. Paraticamente fechei um roteiro de operação e Jody, meu operador da primeira temporada pode se familiarizar com a lingua portuguesa.
Dani e Tchaça tiveram um crescimento incrivel neste periodo, sem tirar os meritos da colaboração de Naiara (que cresceu muito também) e Camille ( á com experiencia e menos presente que os demais), o mesmo com Piu. Mas Dani e Tchaça assumiram seus papeis e passaram a coordenar as ações técnicas na Praça e sairam dali dominando o que seria nosso projeto.
Imagem 2:
Um dos momentos de introspecção do personagem Bruno no espetáculo.
Neste periodo fui achando o lugar de cada um no projeto. Dani desde sempre minha assistente e operadora, Tchaça meu técnico chefe, Naiara com os desenhos, os story board, os registros de cada etapa, sempre ligados ao desenho e Camille ajudando Jody no software de prévisualização da Grand MA e nos ajudando no Auto CAD. Piu foi um colaborador não tão presente mas sempre que veio nos ajudou muito. Partimos daqui a dois dias para o SESC, montagem, mas Lili seue trabalhando na Praça e só entra no SESC dia 28.06.
São Paulo 22 de junho de 2015
Decepção, não conseguimos resolver a dimerizacão das fluors e minhas calhas de fluorescentes tiveram que sair da peça. Errei feio em meu cronograma, justo eu que fico achando que sou absolutamente planejado, que penso em tudo…Comi bola feio. Passei dois meses julgando ser este meu material, mas em momento algum fui atras disso. Não julgava ser tão dificil.Comprei reatores dimerizáveis, investi R$ 1.500,00 nisto e não deu certo. Não basta o reator dimerizável, conecta-lo a lâmpada, como um reator convencional e ai manda-lo ao dimmer. Falta algo entre o reator, a lâmpada e o dmx. O que é, o que é????
Bem não tenho desculpa, tenho que resolver isto antes de sair do SESC, minha nova temporada sera em setembro e preciso usar as fluorescentes.
Procura-se um técnico em electrônica que me ajude nisso.
São Paulo 23 de junho de 2015
Finalmente chegou o dia, entramos no SESC. As 08.00 hs da manha. Marisa iniciou sua montagem de estrutura. Cheguei por volta das 10.00 hs e fiquei impressionado com a rapidez. Pensavamos que seria muito mais lento. Adoro este momento de ver o espaço ficcional “surgindo”. Neste momento me desinteresso pelos ensaios, por corridos, não consigo mais me conectar a cena, parece que já vi tudo o que precisava ver e que agora minha visão esta atrelada aos meus equipamentos que de fato usarei. Só penso em montagem, em ver a luz acendendo e ai só me [re]conecto ao espetáculo com meus materiais no lugar e em ação. Movings, lâmpadas, as traquitanas, as maquinárias, minhas invenções, o medo de que as coisas não deem certo, das escolhas estarem equivocadas. Tenho uma desconfiança muito grande quando defino tudo rápidamente como defini neste processo. Mesmo após as mudanças.
MInha montagem se iniciou por volta das 15 hs como previsto. Uma equipe bacana, com gente disposta e com Primo, um tecnico com quem trabalhamos no BR3 e que lá naquela ocasião se acidentou ficando um ano parado. Durante este periodo de recuperação o Vertigem bancou seu salário, pois Primo sempre foi free lancer. Um amigo e que tem conosco uma relação de muito carinho e afeto, além de ser extremamente competente. Boa noticia.
Fomos até as 19.00 hs avançando no nosso cronograma de colocação dos canos e cabos. Os movings foram pendurados e ligados, assim a partir de amanhã Jody pode iniciar seu contato com a mesa e ir preparando as posições.
São Paulo, 24 a 27.06 de 2015.
As coisas transcorreram com calma e tudo dando certo. Trabalhamos todos os dias das 13.00 hs as 19.00 hs, não precisamos nenhum dia seguir até mais tarde. Gereba, cenotécnico que veio fazer a maquinaria das minhas strip light de dicroicas (entraram no lugar das calhas de fluorescentes) e fixar as gotas no cenário foi finalizando sua parte. Todos os dias Jody e Dani saiam as 18.30 hs para ir a Paraça das Artes acompanhar os ensaios e eu ficava um pouco mais, chegando na Praça para o corrido. Ainda fui a Paraty fazer a FLIP e voltei no dia que Lili entraria no espaço, dia 28.06. Jody e Dani passarm duas noites até madrugada fazendo um pré roteiro do espetáculo. Deixei até para ver o que poderia vir de ideia.
São Paulo, 28 de junho de 2015
Primeiro dia da Lili com elenco no espaço. Saimos da Paraça e as coisas deram um tremendo salto de qualidade para os atores. As escadas são mais confortaveis, as pasarelas do cenário mais amplas, o fechamento mais adequado, enfim melhoras em todos os niveis.
Meu procedimento foi o mesmo utilizado na Belgica. Conforme Lili vai montando as cenas e ensaiando eu vou gravando. Quando ela para eu aproveito para corrigir e acertar tempos, posição, cor etc.
Jody já esta acostumado a isso e o trabalho transcorre sem sustos, pouco a pouco vou avançando e tendo minha luz definida.
Chegamos na metade do espetáculo.
São Paulo 29 de junho de 2015
Montagem, acrescentando coisas, corrigindo coisas, finalizando coisas. Inicio dos ensaios sempre as 15.00 hs.
Decepção com o fato de não ter as fluors dimerizaveis e estar usando strip light de Dicroicas.
Maravilha com o entulhamento de coisas.
Do experimento de duas cores para uma unica cor, Luz monocromática. Porque? Parece que tudo o que vinha trabalhando até aqui se perdeu. Cadê o Blue Green (R116) que se misturava ao sódio (L652) e produzia sombras verdes, uma cor mais suja. Tenho que dar um jeito de recuperar isto. Como deixei na mão do Jody e da Dani, cabe a mim agora limpar e trazer de volta o que haviamos decoberto em nossa precariedade de lampadas PAR 64. Interessante pensar que o uso de poucos equipamentos produziu descobertas muito ricas e quando você amplia isso algo se perde. Parece que a “segurança” de ter o material que você quer trabalhar transforma o periodo anterior em mera brincadeira e não numa fase de pesquisa que deve desembocar neste novo momento de maior estrutura e com a tecnologia adequada. Tenho que sujar o que estou vendo, esta tudo um pouco chapado demais.
São Paulo 30 de junho de 2015
Acordo com uma sensação estranha no corpo. Cansaço… Estu esgotado de tentativas, algumas fracassadas, algumas com exito. O que busco afinal? Um projeto perfeito, algo que as pessoas olhem e gostem, busco aprovação? Porque nos importamos tanto com o resultado do primeiro dia? De fato tento não ter este comportamento e que não se leia aqui como alguem que não liga para nada, que despreza as opiniões alheias. É insano pensar que no tempo que estamos levantando tudo isso dentro do SESC seja possivel fazer algo para além do correto, dias 28,29,30.06 e 01.07. Quatro dias. Até quando vamos correr atrás destas migalhas e aceitar condições que depoe contra o trabalho, que poe em risco um projeto artistico. Se somos artistas e pesquisamos então tudo se resolve e a entrada do publico inaugura uma nova etapa no projeto; a troca, o olhar do observador, a critica e um recomeço, ou uma continuidade no aprimoramento de um projeto, em busca do exito dele proprio. De tudo o que experimentei até aqui; as duas cores, a hereditariedade presente no uso destas cores para Pais e Filhos, uma cor como matriz e a outra como uma derivacão dela, o movimento na luz agora com o uso dos movings, mas no momento da Paraça com as Pares e os tecnicos as manipulando, disto ficaram as cores mas não consigo a mesma definição que tinha na Pça das Artes. Lá a altura me ajudava a ter esta definição, aqui a proximidade dos equipamentos, os angulos, fazem com que as coisas se misturem mais.
Acabei usando as duas cores para gerar contraste e, como diz Chico Turbiani, para criar uma luz mais suja, mais próxima do real, sem aquela ascepcia de uma geral bem afinada, com frente, lado, contra luz. A luz aqui é um pouco mais chapada e com mistura de cor.
Minhas luminárias de teto que tanto esperei dar certo com as fluors estão caminhando e sigo trabalhando na ideia do movimento. É forte, é impactante, cria uma camada de significado interessante, o individuo deixando a família e ganhando a cidade para ganhar experiencia, a dimensão do privado e do publico. Podemos estabelecer muitas leituras, mas…
O movimento não é motorizado e sim feito por seis pessoas, o que produz uma imprecisão. Fazer ou não fazer?
Ideias não faltam, mas os recursos ainda não são suficientes.
São Paulo, 01 de julho de 2015
Hoje vamos estrear, depois de um bom ensaio ontem. Consegui avançar bastante mas não estou contente com o resultado final, devo seguir trabalhando para afinar algumas ideias. O conceito de hereditariedade na luz, a ideia do privado e o publico. Consegui recuperar o uso das duas cores. Consegui definir mais o que pertence ao Julio (o filho quando Pardal esta com Petrin, o pai) e o sódio como a cor do Pai ( quando Petrin esta com Pardal e quando Bruno, Pardal, esta com seu filho, o Julio).
Aos poucos fomos recuperando esta definição, fui achando os angulos adequados. Os movings finalmente começaram a surtir o efeito desejado e entraram em diversos momentos. Fomos aperfeiçoando as seguidas e trazendo para cena uma definição e uma precisão nos momentos de instrospecção. Estou bem contente com o que vamos apresentar amanha. Creio que o projeto como um todo ganhou consistencia e muito do que foi experimentado foi para cena, se transformou e achou o seu lugar.
Chico voltou algumas vezes e continuou seu processo de interlocução comigo o que tem me ajudado muito. Nosso trabalho na luz é de uma solidão imensa. Os diretores sempre nos apontam questões ligadas a luz na encenação, mas uma discussão sobre projeto em si, sobre a coerencia interna dele, sobre a pesquisa especifica na luz, isto é muito dificil. A presença do Chico me fez refletir mais, buscar mais profundidade e ter a critica dentro do processo. Quero repetir este procedimento, alguem que vem para acompanhar seu processo e critica-lo, como Tó e Lili fazem na encenação, buscam sempre a interlocução de alguém que tenha condicões de olhar pro seu trabalho e criticá-lo. Isto só faz meu projeto ganhar consistencia.
São Paulo, 02 de julho de 2015
No que minhas propostas de 22 de abril se transformaram:
Portas e Janelas
Usei Fresnel de 1000w. No meu rider pro SESC pedi 20 fresneis de 1000w e 20 set lights de 1000w, como garantia. Acabei usando os fresneis.
Não consegui avançar na ideia do shutter manual e no uso das CDMR, nem no uso das placas de LED.
Circulação no back stage
Acabei usando festão, um fio com soquetes E27 e lâmpadas incandescentes de 15 wts, o que me possibilitou dimeriza-las.
Fachada do cenário:
Abri mão das fitas LED, aos poucos tenho percebido que a aplicaçãoo da fita Led é mais pontual do que imaginava, tem todo o trabalho de soldar, usar fonte de alimentação, alguns modelos não dimerizam, não aguento mais ver os pontinhos luminosos do LED, deu para mim. Descobri, recentemente em um projeto de iluminação para museu umas luminárias da PHILLIPS que as substituem com muito mais qualidade.
Optei pelas próprias luminárias industriais, chamadas por nós de GOTAS, com lampadas PAR 30, de 75w e filtro L652. Os movings também serviam para alterar a cor do cenário ou, no caso do uso em branco e das fluorescentes da maternidade (imagem 3) em branco, trazerem a cor original.
Movings:
Nada de quadrante e nada de quatro. Usei os Clay Paky Alpha 800 Profile e ao invés de quatro usei 06. Senti falta de ter dois no meio do espaço, por isso alterei sua quantidade. O numero inicial (04) me pareceu limitador demais.
Calhas de fluor
Lutei até o ultimo minuto, mas como não tenho suporte da ciência e trabalho com aprendizes ainda e mesmo com o apoio de alguns técnicos, não resolvi a dimerização. Foi uma terrível frustração. Na negociação com a empresa locadora abri mão dos 20 set lights e pedi 18 strip light de dicroica. Criei uma caixa para “disfraça-las” mas o peso ficou demasiado para a maquinaria que tínhamos pronta de cordinhas. Abri mão na ultima hora das caixas e agora tenho as dicroicas com filtro L009 nelas para diferenciar o ambiente da casa com a rua.
Imagem 3:
Cena da Maternidade.
Luminárias na mesa
As luminárias de mesa (caíram as mesas) foram instaladas em cima das portas com lâmpadas eletrônicas de 7w.
Plafonds
Luminárias industrias (06 plafon) com lâmpadas CDMR 70 wts distribuídas pelo espaço. A única diferença foi o uso dos filtros R116 nelas. Comecei usando L652, depois L653, ficou escuro demais e por fim o R116 foi o que melhor traduziu o clima noturno de rua, mas descaracterizou o uso do CDMR, talvez pudesse ter outra lâmpada qualquer, que dimerizasse, geraria menos incomodo no som. O disparo do reator provoca ruído.
Luminárias industriais (gotas)
As pequenas e coloridas acabei usando com lâmpadas incandescentes halogenas de 60 wts. Para poder dimeriza-las
Aquelas que ficaram na entrada e que tinham cano acabei usando a Par 30 de 75w com filtro L652
As demais, fixadas na passarela, e que davam a leitura de rua, também usei Par 30 de 75w e filtros L652
Ponte móvel (pórtico roldante)
Caiu
Revelar galpão
Caiu, acabou virando luz de serviço.
Ribaltas
Usei com a mesma finalidade pensada, mas com lâmpadas Par 30 de 75w , padronizei todas, e uma mistura de filtros. 80% L652 e 20%R116.
Nichos com teto
Caiu o teto dos nichos.
Área externa
Não tivemosm nenhuma cena do lado de fora. Troquei a AVOLITE por uma Grand MA
Infra estrutura ficou exatamente como o pensado com o uso dos canos.
São Paulo, 04 de julho de 2015
No dia da independência dos EUA me sinto quase liberto deste processso. Não que eu queira, não que tenha feito mal, mas a pressão do tempo, a pressão pela qualidade esperada, a pressão pelo meu nivel de exigência, isto sim é cansativo e não muda quando estamos no SESC.
É hora de reavaliar esta relação.
No que diz respeito a luz creio que consegui chegar num lugar que me interessa. A casa tem uma temperatura de cor diferente da rua. Na casa uso o filtro rosco 09, que cá entre nós é tradição pura e na rua o Urban Sódio da Lee, 652. Gosto muito desta cor. Nos momentos de introspecção dos personagens estou usando o Blue Green da rosco 116, também nenhuma novidade. Das três cores a menos usual é o sódio. Nas três tenho verde em sua composição, o que me interessa muito. Tratamos de relações familiares, hereditariedade. Tenho tentado fechar melhor esta ideia. O pai na cena inicial (Petrin) tem uma icidência de sódio (L652) nele) e o filho (Pardal) tem o blue green (R116). Depois quando estão o segundo pai (Pardal) e seu filho (Rafael) esta mesma relação de cor se estabelece. Pai (652) e filho (116). No final quando o filho (Rafael) mata o pai (Pardal), ele assume a cor do pai e o pai a do filho. Todos os momentos de introspecção do filho/pai ( PARDAL) eu uso o Blue Green (116 ) assim como em todas as janelas, criando assim figuras e imagens que são do universo não real, ora da mente do personagem numa auto reflexão e hora do campo do fantastico, talvez algo kafkiano, do universe das sombras. A introspecção das mulheres eu tenho usado o branco, para diferencia-las dos filhos.
Imagem 4:
Contraste entre as cores Blue-green (L116) e Sodio (L652)
sobre o personagem Bruno.
Neste sentido estou bem encaminhado e sigo trabalhando. Ontem ajustei uma série de momentos que estavam imprecisos nestas relações do uso da cor e hoje pretendo seguir anotando e trabalhando. Pretendo fechar meu projeto, nesta etapa amanha e ai me distanciar por uma semana talvez para poder olhar pro trabalho e tecer novas considerações.
Já começo a pensar na nova temporada.
A que se ressaltar a importancia dos estagiários; Tchaça, Dani, Naiara, Piu, Camile durante todo o processo. Mais uma vez eles foram meu motor, minha injeção de animo e contribuiram muito, se dedicando e se engajando de uma maneira extremamente importante. Todos foram extremamente importantes cada um com suas qualidades e deficiências. Vi todos crescerem e se firmarem este processo criativo/pedagógico que estabelecemos no Vertigem. Na etapa final a chegada de Flavia, Marcela, Marina, Patricia, Ricardo, Aldrei, Ney. O importante trabalho do Fabio na elétrica. Uma equipe muito bacana, muito proxima e muito disponivel para o trabalho, para a pesquisa.
Imagem 5:
Cena do Bar.
Jody sofreu e esta sofrendo. As diferenças de realidade o confrontaram com muita coisa a aprender. Precariedade, falta de visibilidade da house mix, profissionais em formação trabalhando no projeto, pressão da falta de tempo, uma mesa de controle que ele não domina (Grand MA) mas que ele escolheu. Sair da zona de conforto com certeza o deixou inseguro, tenso e de muito mal humor em determinados momentos. Questões culturais, de temperamento (em alguns momentos ataques, crises com Danielle e com Tchaça. Por mais que tivessem havido falhas, não era para tanto) que não tiram a sua contribuição extremamente importante para mim, pois me deu segurança técnica na hora de graver. Dani não estaria preparada para isso ainda e assim consigo fazer com que ela esteja muito bem para o inicio da nova temporada em setembro.
Agora tenho que deixar o tempo correr e assim que acharmos o novo espaço tratar de pensar em adaptações. Se tudo foi atipico ate aqui continua sendo pois nem bem estreamos e tenho que pensar em adaptar e mudar algo que não esta consolidado.
Espero em breve retomar o tempo dilatado para as criações no Vertigem que sempre foram muito bons e sempre muito favoráveis a mim.
Download do projeto
Recent Comments
Leave a comment