Guilherme Bonfanti | A luz de Rainha[(S)]

A luz de Rainha[(S)]

Meu primeiro ensaio da peça começou “sem sabermos” que havia começado: duas atrizes se arrumando, escutando rádio, conversando… e, de repente, é cena. Quem faz o que? É cena? Tudo fica no ar. Uau!, que luz é essa?

 
A luz de Rainhas foi sendo elaborada dentro desse espírito, junto com a construção do espetáculo. Não foi uma luz feita para “marcar” o que as atrizes faziam no palco, mas uma criação mais “orgânica” à construção da cena, partindo de dentro do jogo proposto às atrizes.

 
Lembro-me que depois de assistir ao primeiro ensaio, uma imagem que me veio foi a das pinturas de Francis Bacon, uma das primeiras imagens de transformação da luz. Depois sombras. Junto a tudo, o pulso da luz, que é o da construção da luz acontecendo junto com a transformação de atrizes em personagens. A luz é parte delas.

 
Como conceito, o desenho da luz partiu do espelhamento e suas sombras e luzes. O que o determinou foi o jogo de serem duas atrizes com suas camarinhas em cena. Duas rainhas iguais com personalidades distintas: luz de ângulos contrários que na Arena se encontram e também duelam.

 

Alessandra Domingues

A luz de uma é espelho da luz da outra. Sob o ponto de vista da atriz em cena, a luz diagonal sempre vem da direita; sob o ponto de vista do público, uma é espelho invertido da outra: a luz de contra é a luz de frente.

 
No plano geral da luz, as duas rainhas – duas sombras e duas atrizes – têm o mesmo de- senho com temperaturas diferentes. O que os diferencia sutilmente é o uso de filtros específicos para cada atriz/personagem.

 
Ao mesmo tempo, para Maria Stuart, a luz é fresta, buracos, luzes pequenas e desenha- das, uma lâmpada. Uma iluminação pouco pública, onde a platéia observa essa prisioneira.

 
Já a luz de Elizabeth tem contra-luzes fortes, uma geral de várias lâmpadas e raramente está com uma luz fechada, privada: o público é a sua corte, a luz é aberta.

 
Já que uma rainha é sombra e luz da outra, uma atriz tem a luz da outra, que se trans- forma junto. A platéia, parte integrante do espetáculo, ora está dentro, ora fora. O jogo do público e do privado. A atriz se abrindo e a personagem surgindo.

 
No movimento (a pulsação da luz), a opção foi de uma construção. O teatro dentro do teatro, a transformação passo a passo. A luz se modificando e, de repente, teatro: o movimento que acompanha o ritmo da construção de cada atriz para duas personagens.

 
Um jogo de luz/movimento dialogando ora com atriz, ora com atriz/personagem e ora só com personagem.

 

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